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Nova Consulta

Jornal/Revista: O Dia
Data de Publicação: 28/09/1989
Autor/Repórter: Maria Helena Dutra

O ETERNO RETORNO DAS FÓRMULAS

Perdão, leitores. Contrariando meus hábitos, deixei de fazer o balanço final de Pacto de Sangue. É que a novela acabou despercebidamente. Outra história sobre a escravatura e seus heróis brancos realizada pela Globo de maneira bonita no visual e apenas pífia nas idéias, tema e enredo. Dentro desse esquemão, o rendimento de toda a equipe envolvida foi apenas mediano. E no seu lugar já está agora Sexo dos Anjos. Levada pela primeira vez em 1968 na Excelsior com relativo sucesso, a estação já estava em sua reta final, sob o nome de Terceiro Pecado, mas que permitiu ainda os brilhos individuais de Nathália Thimberg, o Anjo da Morte, Gianfrancesco Guarnieri, como seu mensageiro, Regina Duarte, na mocinha Carolina, Maria Isabel de Lizandra, como sua irmã ruinzinha, e Stênio Garcia no surdo-mudo. Um trabalho datado de Ivani Ribeiro em tempo no qual os autores ainda podiam ousar, mesmo copiando as linhas mestras de filmes americanos, e o gênero não tinha ainda tantos compromissos com o consumo, merchandising e estilos cristalizados.

Deste tempo é Ivani Ribeiro, a Janete Clair paulista, hoje já aposentada, mas ainda contratada pela Globo. Com quem tem um original acordo. Ela nada escreve de novo para a emissora, mas permite que a líder regrave com as alterações que quiser suas velhas histórias. Como aconteceu em Amor com Amor se Paga, A Gata Comeu e Hipertensão. Na crise autoral que se abate sobre o mundo,

um recurso compreensível e eficaz quando feito de maneira competente. Neste nível não está Sexo dos Anjos. Mas também não é desastre. A avaliar pelo seu início. Para melhor classificar este começo, acho a melhor expressão definir como correto e profissional o trabalho de Roberto Ta Ima e sua equipe.

O chato, principalmente para quem muito vê televisão profissional= mente ou por livre opção, é o eterno retorno das fórmulas. A abertura lembra mil outras e tem até mesmo a viagem do primeiro capítulo. Uma tradição da Globo para depois se fechar no estúdio. No caso específico, a externa escolhida foi Las Lenas na Argentina e urna floresta nativa. Fica bonito mas infelizmente está cada vez mais rápido. O sinal de rotina é o Cristo no Corcovado, outra convenção da emissora para informar que todos voltam para cenários montados e estamos dando adeus aos naturais. A 'estátua aparece tanto agora por lá que merecia ser adotada pela casa para os seus urgentes reparos. No mais a correção de sempre da técnica e de um elenco que tudo tem para agradar.

Restrição apenas faria ao excesso de virtuosismo nos efeitos indicativos do caminho da bela que atinge Stênio Garcia, agora fazendo padre, no primeiro capítulo. Desnecessário grafismo eletrônico. E aos cabelos negros de Isabela Garcia. Ficou parecendo filha de Ilva Niño. Não sei se tal fizeram porque na primeira versão Regina Duarte era loura. Ou se estão querendo vender tinturas pretas para o povo já que o mesmo cometeram com Vera Fischer. Enfim, deve dar para distrair. Para quem conseguir agüentar repetidos esquemas. Simultâneos. Um pecado da coordenação-geral da emissora que oferecia, há três semanas, duas novelas de época seguidas. E agora as substituiu por historinhas atuais repletas de jovens e crianças. Estão no segundo. O terceiro pode ser fatal.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 10309