PUC-Rio

Voltar

Nova Consulta

Jornal/Revista: O Dia
Data de Publicação: 04/11/1990
Autor/Repórter: Jorge Antônio Barros

UM RETRATO SEM RETOQUES DA PERIFIRIA DE UMA GRANDE CIDADE

SÃO PAULO (Sucursal) - Quem tem medo da realidade brasileira, bem ali na sala de estar? Pois a partir de amanhã, às 18h pela TVS, estará no ar o Brasil dos despossuídos, num retrato sem retoques da periferia de uma metrópole subdesenvolvida - Brasileiras e Brasileiros, a primeira novela do Núcleo de Teledramaturgia do SBT, dirigido pelo ex-global Walter Avancini. Ele promete apresentar o cotidiano da imensa maioria da sociedade, com o bom humor e a alegria com que esses brasileiros e brasileiras costumam dar a volta por cima. Sarney mesmo testemunhou isso.

Com argumento de Avancini, direção de Roberto Vignati e roteiro de Carlos Alberto Soffredini - auxiliado por mais de cinco roteiristas - a novela tem o enredo centralizado num ringue de luta-livre feminina - a Academia Duras na Queda, em algum lugar da periferia de São Paulo. Edson Celulari é o protagonista, representando Totó, um sonhador que se associa ao ex-lutador Ângelo (Fúlvio Stefanini) para recrutar lutadoras de catch, numa espécie de espetáculo mambembe. Integram também o elenco exglobais como Laerte Morrone, Jaqueline Lawrence e Ney Latorraca em participação especial como Braz Cubas, um ladrão pé-de-chinelo.

No ringue de Brasileiras e Brasileiros, Isadora Ribeiro, a Tereza de Ogum, é Maria Bonita, o terror do agreste; Carla Camuratti, a Catarina, é a Mulher-Gato; Alexandra Marzo, a pequena Alma, é Menina Veneno; Márcia Dornelles ou Arlete é Helena de Tróia; Cida Costa (Selma) é Barbarella; Rosi Campos, a Clarisse, é Diana, a mulher loba; Eiana Fonseca, a garia Vanusa, é Roliça Rebelde; Zezeh Barbosa, Edilaine, é a Pantera Negra; Sandra Akemi, uma nissei, é a Ninja Fatal; e a lutadora Samanta interpreta o próprio personagem que há 10 anos faz luta livre.

Com as lutadoras Samanta, Maria. Clara e a ex-campeã Olga Zumbano - tia do pugilista Éder Jofre -, as atrizes garantem que aprenderam a cair. E, pela primeira vez, o dublê será dispensado em cenas que sempre vão representar algum risco. O grande desafio da produção, porém, é a grande quantidade de cenas externas (70%) gravadas nas ruas, cortiços e favelas de São Paulo, onde vive a terça parte da população.

Com 156 capítulos, que equivalem a seis meses de exibição, de segunda a sábado, a novela tem custos previstos em 5 milhões e 600 mil dólares (cerca de Cr$ 594 milhões no câmbio paralelo), incluindo a implantação em agosto do Núcleo de Teledramaturgia - nome pomposo que designa uma equipe de 180 profissionais, inclusive elenco.

Brasileiras e Brasileiros - um bordão do ex-Presidente José Sarney, que hoje é algo como a minha gente de Fernando Collor - confirma a disposição do SBT em disputar para valer o público de telenovelas.

PARTICIPAÇÕES NO PRIMEIRO CAPÍTULO - Com a assinatura de Walter Avancini, reconhecido pela exigência e criatividade, Brasileiras e Brasileiros reúne pioneirismos que certamente vão entrar para a história da telenovela brasileira. Logo no primeiro capítulo, há uma cena de capotamento dirigida pelo publicitário Roberto Carvalho, o Dudu, premiado por filmes sobre automóveis e com dublês como o das inusitadas quedas da propaganda do Gelol. E a primeira vez que se tem notícia de que a estética da publicidade interfere diretamente na concepção da telenovela.

Outro ineditismo da novela é a participação de um elenco especialmente convidado, em que verdadeiros astros da televisão fazem pontas, cenas rápidas. A única iniciativa no Brasil nesse sentido foi a do filme Fogo e Paixão, de Isay Weinfeld e Márcio Kogan, de 1988, no qual artistas como Rita Lee e Fernanda Torres fazem cenas curtas. Em Brasileiras e Brasileiros, o primeiro capítulo tem participação especial de Paulo Autran, Maria Della Costa, Fábio Jr., Irene Ravache, Lucélia Santos, Sérgio Mamberti, Ângelo Maria e o empresário José Victor Oliva.

Eles participam de cenas gravadas num hospital, para onde Ângelo (Fúlvio Stefanini) é levado por Totó (Edson Celulari) e Goiabinha. Antes disso, Paulo Autran é um falso surdo-mudo que aconselha Totó, no telefone público, a se identificar como político para obter o auxílio de uma ambulância. O veículo é dirigido por Sérgio Mamberti. O diretor do hospital é Fábio Jr. A recepcionista, Maria Della Costa. Irene Ravache faz a vendedora de cafezinho e Lucélia Santos uma caridosa irmã. Ângelo Maria uma das pacientes e José Victor Oliva - quem diria - o cozinheiro do hospital.

Walter Avancini disse que as participações servem, sobretudo, para fortalecer a idéia de um novo mercado para os artistas, fora da Cidade Maravilhosa. O núcleo de novelas promete, entre outras coisas, libertar da ditadura da ponte-aérea os artistas de São Paulo, que eram obrigados a trabalhar apenas no Rio, onde estão as emissoras com centrais de produção de novela - a Globo e a Manchete.

PERSONAGENS E ELENCO

- Totó (Édson Celulari) - Bem brasileiro, sonhador, persistente e generoso. Sedutor e extremamente mulherengo.

- Ângelo (Fúlvio Stefanini) - Ex-lutador de boxe fracassado, optou pela luta-livre, na qual alcançou a glória.

- Orlando (Daniel Dantas) - É o juiz das lutas. Jovem, bonitão, é um bom amigo nas horas de alegria.

- Brás Cubas dos Santos (Ney Latorraca) - Ladrão pé-de-chinelo. Passa a maior parte do tempo na prisão.

- Catarina (Carla Comuratti) - Mulher de vida dupla, filha de Coriolano, líder moralista, de classe média, presidente da Limov (Liga pela Moral e Virtude).

- Tereza de Ogum (Isadora Ribeiro) -Vendedora de acarajé que se transforma numa das lutadoras mais perversas.

- Coriolano (Laerte Morrone) - Aposentado como professor, severo e nervoso.

- Alma (Alexandra Marzo) - Raptada nos primeiros meses de vida, aos 18 anos tem mentalidade de uma criança. '

- Arlete (Márcia Dornelles) - Ex-mulher de Brás Cubas.

- Clarisse (Rosi Campos) - Ex-florista.

- Vanuza (Eliana Fonseca) - Nasceu na época da jovem guarda, no interior.

- Selma (Cida Costha) - Muito bonita, mas pouco inteligente.

- Antoinette (Jacqueline Lawrence) - Antonieta - como preferem chamá-la - se diz parente de monarca francês.

- Simone-Marie (Patrícia Luchhesi) - Sobrinha de Antoinette. Enclausurada pela tia, vê o mundo pela janela.

- Dr. Leal (Osmar Ângelo) - Médico recém-formado, tímido e reservado.

- Dona Clara (Ana Lúcia Torre) - É a própria videota, viciada em tevê.

- Edilaine (Zezeh Barbosa) - Tem cinco filhas, cada uma de um pai.

- Goiabinha (Goiabinha) - E o anão do exército brancaleônico de Totó.

- Isabel (Renata Sofredini) - Verdadeira princesa, vive num mundo de fantasia.

- Gabriel (Bentinho) - Irmão de Isabel.

- Tia Ju (Consuelo Leandro) - Alcoólatra, ex-vedete de teatro de revista.

- Maria Elizabeth, a Betinha (Renata Pereira) - Filha de Dona Ester.

Voltar

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 13845