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Nova Consulta

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 14/11/1990
Autor/Repórter: Lúcia Leme

AVANCINI COM A MÃO NA MASSA

Diretor cria núcleo de novelas no SBT

Ele tem mania de desafios. De competir com ele mesmo e com o imponderável. Qualquer coisa que traga dificuldades estimulantes, obstáculos aparentemente intransponíveis - enfim, tudo que pareça quase impossível de conseguir. Coisas assim mobilizam demais um dos grandes diretores de nossa televisão, pelo menos um dos mais elogiados pelos atores que com ele trabalham. E Walter Avancini, paulista há muito radicado no Rio, 47 anos de carreira, a maior parte deles dedicada ao teatro e à televisão, sem esquecer uma passagem pelo rádio e pelo circo nas décadas de 40/50.

Com um jeito doce de falar, ele vai contando que já fez de tudo na televisão. Escreveu, dirigiu, representou. Deixou de ser ator em 1967. Dali em diante passou a atuar de outra maneira, nos bastidores, na montagem, nas decisões. E gosta disso. Começa a rir e avisa que virou um executivo.

E vai ser isso por um bom tempo.

É assim que Avancini define seu novo trabalho no SBT, onde está desde junho deste ano. Ele foi contratado para montar o núcleo de novelas da emissora, uma bela missão para quem é louco por desafios:

- Quando cheguei lá não tinha nem a mesa. Mandei vir uma e comecei a produzir, a administrar, comprar equipamento, escolher pessoas, atores, autores, enfim, tudo. E estou gostando muito. Sou inquieto. Já saí da Globo três vezes só por inquietação.

Walter Avancini não se assusta com esse começo. Sair do zero para uma produção complexa e sofisticada como uma novela. A primeira que fez no SBT já está no ar. E "Brasileiras e brasileiros", argumento do próprio Avancini e roteiro de Carlos Alberto Sofredini, transmitida diariamente às 18h.

- Estou começando com um autor de teatro, sem experiência em TV, que está sendo assessorado por um grupo.

O diretor explica que não tem nenhuma preocupação com a audiência dessa primeira novela. Mesmo assim, vai logo passando os índices do primeiro capítulo que teve média de 17 por cento na Grande São Paulo, assistida por um público em torno de dois milhões de espectadores, uma multidão que Avancini meio que timidamente justifica como "curiosos sobre a novela":

- E uma boa audiência, sim. Mas não posso entrar nisso de ficar conferindo índices porque a conquista é mais longa. A novela tem defeitos, não estou gostando do resultado final ainda. A emissora não tem tradição no ramo das novelas. Isso parece não ter muita importância. Mas tem. Porque as pessoas não têm ainda o hábito de ver novelas na TVS. E também esta não é uma novela comum. Não tem ódios nem paixões. E muito mais uma crônica, o dia-a-dia, o lado humano do ser. Enfim, uma homenagem ao público do SBT que é, como disse Avancini, o da periferia.

PARA 91, MAIS DOIS HORÁRIOS DE NOVELAS NO SBT - Avancini acha que precisa de tempo. Um tempo para o autor se exercitar; para que as quase 200 pessoas envolvidas com este trabalho possam se entrosar. E um tempo para o público se habituar com a narrativa e o tema dessa novela.

Normalmente, um programa de televisão leva um ano para estabelecer uma relação mais forte com seu público. Isso se ele for bom. Se não for, não estabelecerá nunca. Com a experiência e a sensibilidade que tem, Walter Avancini sabe disso. Sabe que tem um ano para criar o hábito no espectador de ver novela na TVS. Sabe que em tal campo tem forte concorrência de duas grandes emissoras: da Globo e da Manchete. Mas diz que não se assusta com isso:

- A Globo tem um produto hoje que é resultado de um exercício de qualidade de muitos anos, do qual participei. E respeito muito esse produto que foi desenvolvido lá. Mas não posso me render a ele. Até porque, creio, pela falta de concorrência, a Rede Globo de repente estava dormindo em berço esplêndido. Então, acho que quanto mais novelas vierem nos outros canais mais estimulante será, para cada um e em especial para a Globo, que vai se sacudir um pouco com isso.

E enquanto aprimora a novela das seis do SBT, Avancini avisa que mais novelas virão ano que vem. Dia 19 de março de 1991 estréia a novela das sete, uma espécie de "cowboy chique paulista", que conta a história de Anita Garibaldi. A das oito, só em julho de 1991 e Avancini não resolveu quase nada sobre ela. Mas já tem a próxima, das seis, que sucederá "Brasileiras e brasileiros":

- Será escrita por Regina Braga e Geraldinho Carneiro e nela iremos discutir alguma coisa como, talvez, a incapacidade da maioria das pessoas de ser sensível e simples.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 13939