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Nova Consulta

Jornal/Revista: Meio & Mensagem
Data de Publicação: 10/12/1990
Autor/Repórter: Lucélia Caseiro

INSUCESSO DA NOVELA OBRIGA SBT A FAZER CORTES

Taxas de juros de mais de 1% ao dia, somadas ao insucesso de uma novela que mal consegue atingir os seis pontos de audiência, levaram o SBT a adotar uma política de contenção de gastos. De acordo com o diretor comercial da rede, Rubens Carvalho, a meta é alcançar uma economia de US$ 1 milhão mensais até março de 91, no mínimo.

Entre as medidas de economia que foram tomadas pelo SBT estão basicamente os cortes na programação e de pessoal. Já foram tirados do ar telejornais locais de Porto Alegre, Brasília, Belém, Ribeirão Preto e Nova Friburgo, restando apenas os de São Paulo e Rio. Segundo Rubens Carvalho, esses programas não estavam sendo suficientemente rentáveis. Nada estranho para o diretor, "pois jornalismo dá prejuízo em qualquer emissora do mundo".

Ainda assim, o SBT demonstra estar reformulando a estratégia de seu jornalismo na medida em que acaba de contratar Lilian Witte Fibe, com um comentado salário milionário, ao mesmo tempo em que despediu 35 funcionários entre jornalistas e técnicos. Rubens Carvalho, entretanto, desmente, categórico, os Cr$ 3 milhões que, segundo rumores, estariam sendo pagos à jornalista.

"Nós a contratamos para dar maior credibilidade ao jornalismo, mas esse valor é absurdo", diz. Sem revelar o valor exato, informa que essa cifra teria sido calculada em BTN, projetadas para março, quando Lilian começa o trabalho.

Além disso, o programa "A Escolinha do Golias" passa a ser apenas um quadro dentro de "A Praça é Nossa", e outros podem ser tirados do ar, porque continuam sendo avaliadas criteriosamente as vantagens da relação custo/benefício de cada um deles. A ordem é economizar e por isso foram ainda cortadas verbas de representação e há recomendações internas expressas para que sejam racionalizadas as viagens e o uso de material da empresa.

Segundo Rubens Carvalho, as medidas não foram tomadas visando contornar os problemas da recessão "que certamente virá"; até porque, para ele, a televisão é um dos poucos setores beneficiados por ela. "As empresas têm de girar a prateleira e, para isso, precisam anunciar." Segundo o diretor comercial da rede, só no ano passado, o SBT faturou US$ 100 milhões, sendo que US$ 60 milhões foram destinados a juros bancários. "A empresa é rentável porque custou US$ 70 milhões para ir ao ar", garante, "e em qualquer país economicamente estável teria dado lucro".

No Brasil, porém, tudo é diferente. Logo depois do Plano Collor, quando os juros baixaram, o SBT, como informa Rubens Carvalho, contratou Walter Avancini, todo um elenco, montou um novo núcleo e decidiu aproveitar a oportunidade para começar a investir num produto decididamente rentável: novelas. Foram consumidos US$ 5,6 milhões na produção de Brasileiras e Brasileiros. Foi a primeira vez que o SBT aventurou-se nessa empreitada - as novelas de até então ou eram reprises de antigas produções da Tupi ou feitas por produtores independentes, como o caso de "Cortina de Vidro".

Na opinião de Rubens Carvalho, o investimento em produção de novelas é uma tendência de qualquer rede de televisão, já que é um produto indiscutivelmente rentável. A própria Manchete é um exemplo, só que, para alcançar o êxito em "Pantanal", precisou errar algumas vezes. E é mais ou menos o que está acontecendo com o SBT na novela Brasileiras e Brasileiros. A expectativa de audiência em torno do programa era de 10 pontos. De início o Ibope registrava 17, que passaram a 10 e que atualmente são 6.

Foram vários os fatores que levaram a esses resultados, como explica o diretor comercial. Um deles foi a escolha do horário de veiculação, que poderia ser às 18h (o escolhido), às 19h ou às 20h, sendo os dois últimos, para Rubens Carvalho, bem mais rentáveis. Também o título não agradou aos patrocinadores, tanto que o SBT não conseguiu vender uma única cota antes do início da novela. "Precisamos vender anúncios avulsos para viabilizar o empreendimento", diz Carvalho.

Não bastassem esses problemas, segundo as informações do diretor comercial, a novela ainda aborda "um tema errado". Os índices de audiência mostram que não está agradando ao público também. "Ela está dando problemas", sintetiza Carvalho. "O Avancini, com carta branca, tem um prazo para entender o que está acontecendo e mexer na novela." Uma medida normal, já que a própria Globo costuma valer-se de pesquisas de opinião pública no encaminhamento de suas novelas, segundo justifica o diretor.

JUROS ALTOS - Para Rubens Carvalho, o êxito de uma rede de televisão depende basicamente de dois fatores: do índice de audiência e da política econômica do país. No caso do SBT, o principal investimento neste ano foi dirigido a um produto que não está correspondendo em audiência. Por outro lado, o contexto econômico vai sofrendo alterações que determinam, entre outras conseqüências, uma constante alta dos juros.

"Começo a gastar antes e faturo para 20 dias fora o mês", revela Carvalho. Ocorre que a empresa acaba precisando descontar os títulos antes do vencimento, submetendo-se aos juros do mercado. "Não há administrador de empresas que controle as alterações da economia neste país", reclama.

"Não dá para programar nada, já que isso independe da administração interna da empresa." A despeito disso, para ele, as medidas de contenção no SBT não são diferentes das que têm sido tomadas pela maior parte das empresas. "Vou tentar viabilizar a rede até março, já que não se acaba uma novela do dia para a noite, e muito menos caem as taxas de juros." Entre altos e baixos, no entanto, o SBT vem tendo um bom desempenho nos seus sete anos de existência, avaliando pelo faturamento que, a partir do próximo ano, começa a ser computado em cruzeiros. Em 85, US$ 25 milhões; em 86 US$ 39 milhões; em 87, US$ 50 milhões; em 88, US$ 80 milhões; em 89, US$ 100 milhões; e em 90, provavelmente, US$ 120 milhões.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 14131