MARTINEZ RECEBEU US$ 8,5 MILHÕES
O empresário José Carlos Martinez, dono da Rede OM de televisão, confessou ontem ter recebido de Paulo César Farias empréstimo equivalente a US$ 8,5 milhões, US$ 4 milhões a mais do que foi rastreado pela CPI do PC, para comprar emissoras de televisão em maio do ano passado. Ele revelou em depoimento prestado na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, que deverá opinar sobre a transferência de canais de TV para a Rede OM, que PC emprestou o dinheiro sem assinar contrato ou cobrança de juros. "O Paulo César sempre foi meu amigo e houve uma troca de gentilezas", disse Martinez. Em troca do empréstimo, PC teria recebido dele a cessão do título Tribuna de Alagoas, jornal que pretendia montar em Maceió. Esse foi o estopim da briga com Pedro Collor, irmão caçula do presidente que denunciou as ligações entre PC e Collor.
Martinez disse que só este ano terminou de pagar o empréstimo, em cruzeiros e sem correção, após vender uma propriedade. Ele negou que seja testa-de-ferro de PC e que tivesse conhecimento de que cheques de fantasmas foram usados para pagar pela TV Corcovado, adquirida do SBT. Martinez revelou que pediu dinheiro a PC e recebeu um cheque administrativo do Banco Rural, no valor de Cr$ 2,5 bilhões, sem saber que este tinha sido comprado pelo fantasma Manoel Dantas Araújo.
Os demais pagamentos ao SBT, depositados em conta corrente na Caixa Econômica Federal, foram feitos diretamente por PC. Os cheques, nominais à CEF, eram assinados por fantasmas e no verso havia a descrição do motivo: pagamento ao grupo Sílvio Santos (dono do SBT) pela Rede OM.
"Não tive preocupação porque recebi cheques administrativos. A origem do cheque eu não posso ter conhecimento", disse Martinez. Apesar disso, há também cheques menores de fantasmas depositados diretamente nas contas da Rede OM e de José Augusto Martinez, parente do empresário. José Carlos Martinez recebeu cheques de fantasmas e um cheque do doleiro Jorge Luís Conceição, suspeito de lavar dinheiro do esquema PC no mercado de dólar paralelo.
Martinez garantiu que todos os cheques recebidos do esquema PC constam de sua declaração de Imposto de Renda. O empréstimo com PC, segundo ele, foi feito em seu próprio nome para "viabilizar" a compra da OM. Martinez também negou que a intenção fosse montar uma grande rede de comunicações capaz de dar sustentação política ao presidente Collor.
