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Nova Consulta

Jornal/Revista: O Dia
Data de Publicação: 20/08/1995
Autor/Repórter: Maria Helena Dutra

DESASTRE IRREVERSÍVEL

Ultimo capítulo desse meu folhetim sobre novelas. Já chegamos a Sangue do Meu Sangue na quarta-feira, que não repete o sucesso de sua primeira versão. Nela, a história de Vicente Sesso não era nenhuma glória, mas a direção de Sérgio Brito inovou o gênero pela iluminação e requintes cenográficos possíveis no imenso estúdio que a TV Excelsior tinha na época, 1969. Além disso, no auge de suas mocidades, o elenco tinha Francisco Cuoco, Nicette Bruno, Tônia Carrero, Fernanda Montenegro, Armando Bogus, Henrique Martins e muitos mais que acreditavam no seu fazer. Só que nada disso acontece agora.

Paulo Figueiredo e Rita Buzzar mexeram na trama, acrescentando personagens desnecessários, com abuso de frases empoladas até no cotidiano doméstico. Não flui. Mas o pior mesmo é o amadorismo da direção de Del Rangel, Henrique Martins e Nilton Travesso. Um trio super experiente que arrastou a novela no início e agora anda tentando dar uma agilidade ao estilo Rede Globo para a história. A emenda repleta de cortes nervosos produz cenas sem o menor sentido. Dizem que cada capítulo custa em média R$ 39 mil, só que a impressão é de pobreza quase Idade da Loba. Pois a cenografia é ruim e o Rio de Janeiro paulista mais parece uma Praça Quinze ancorada no Morumbi. Não funciona mesmo. E a iluminação soturna ainda agrava o acanhamento dos ambientes internos, até na casa dos mais ricos, e o pavor de trajes e penteados. Artista sofre muito. Posso imaginar o padecimento de Lucinha Lins com aquela peruca de cachinhos que agora foi herdada por Flávia Monteiro que faz o papel de sua filha. Pesada herança.

E o elenco nas duas etapas nada faz para melhorar o baixo astral vigente. Gente onde foi parar o talento comprovado de Lucélia Santos? Atriz que fez história no Brasil nos anos 70 em teatro, cinema e televisão. E quando todos pensavam que se tornaria uma Fernanda Montenegro, criadora da Júlia original que ela repete agora, se revela de exemplar canastrice. Tudo é forçado e caricato. Com tanta chatice que dá para entender e torcer pelo vilão Osmar Prado, o melhor de todos, nas suas maldades contra a mulher. Rubens de Falco que tanto reclama dos jovens parece só poder ensinar clichês a eles. Jayme Periard é apenas uma negação dramática e não soube mesmo cuidar do aspecto físico de sua carreira. Tarcísio Filho não sabe se é Zorro ou Indiana Jones. Periga virar Marcos Palmeira. Bia Seidl, que brilhou no Memorial de Maria Moura, regrediu e se porta como freira em lugar de cortesã. Tônia Carrero deve estar pasma do atual destino de sua antiga personagem. Angelina Muniz lembra uma filha de Gandi e Bete Coelho a Rogéria quando ainda era Astolfo. Desastre irreversível.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 29247