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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Globo Data de Publicação: 03/09/1995 Autor/Repórter: Luiz Augusto Michelazzo
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DOIS ESCRAVOS PERDIDOS NUMA NOVELA
Cenas divertem atores em 'Sangue do meu sangue'
SÃO PAULO - Dois irmãos escravos, separados na infância e vendidos a donos diferentes, estão sempre se encontrando mas não se reconhecem. Esse é o drama de Bentinha (Chica Lopes) e Pedro Cesteiro (Gésio Amadeu) que será mostrado em breve em "Sangue do meu sangue". As cenas já estão sendo gravadas e quase sempre com boas pitadas de humor.
- Bentinha vai à igreja rezar para encontrar o irmão. Pedro Cesteiro tem a mesma idéia. Os dois rezam para o mesmo santo e um acaba pisando no pé do outro, sem saber que são irmãos - conta Chica Lopes.
Em outra cena, Pedro, que fazia palhaçadas numa feira, derruba a irmã, que ia às compras. Bentinha é escrava de Pola Renon e Pedro, que era de um fabricante de cestos, consegue sua alforria. Livre, ele se transforma num comediante e se junta à trupe de Raposo e aos grupos abolicionistas.
Na novela, Pedro e Bentinha se reconhecerão através de um patuá, um saquinho de pano que ambos levam preso ao pescoço por um cordão. Os patuás haviam sido feitos pela mãe deles, para protegê-los dos "maus espíritos".
Por ironia do destino, Chica Lopes, que tem 70 anos, conta situação idêntica acontecida na vida real, com sua avó, Terezinha. Nascida na Bahia em meados do século passado, ela também foi separada do irmão, na adolescência, e só foi reencontrá-lo depois de adulta. Ela conta que sua avó fugiu com um namorado do engenho baiano onde era escrava e veio a pé para São Paulo. Lá, refugiou-se na chácara de um padre.
- Pedro Cesteiro é um rebelde simpático, bem humorado, mas com profunda consciência da injustiça da escravidão - diz Gésio Amadeu, que interpretou Jupará em "Renascer", que a Rede Globo está reprisando.
Chica tem mais de 40 anos de carreira na TV e diz ter trabalhado em mais novelas do que é capaz de lembrar.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 29402