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Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 22/10/1995
Autor/Repórter:

CANGAÇO RENDEU UM DOS MELHORES MOMENTOS DA TV

A minissérie 'Lampião Maria Bonita' aproveitou lacunas da vida do herói nordestino para criar ficção romântica

Sérgio Prado

Lampião e Maria Bonita trouxeram brilho por duas semanas às noites dos telespectadores brasileiros (de 26 de abril a 7 de maio de 1982), quando a Rede Globo levou ao ar a minissérie que retratou os últimos seis meses da vida do rei do cangaço, sua companheira e seu bando. Nelson Xavier e Tânia Alves (hoje interpretando a caliente Júlia Saruê de Tocaia Grande, da Manchete) formaram um casal perfeito, protagonizando um dos melhores momentos de suas carreiras e da TV brasileira.

A história de Lampião e Maria Bonita começa com o seqüestro do geólogo inglês Steve Chandles (Michael Menaugh) e o pedido de resgate ao governador da Bahia. A trama aos poucos vai mostrando que Lampião e, em especial, Maria Bonita não eram apenas bandidos como foram retradados muitas vezes pela mídia, mas seres com uma sensibilidade à flor da pele.

Ela em vários momentos emocionou "além da conta", como diriam os bons mineiros. Quando muita gente esperava uma Maria Bonita cruel, aparecia uma mulher doce, sagaz, esperta, inteligente, capaz de tomar decisões importantes, reservadas dentro do bando somente para o líder máximo, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Para a crítica, Nelson Xavier teve sua melhor performance na TV. Reconhecido no teatro por seu talento, ele foi perfeito como o líder cangaceiro mais temido em todos os tempos. É difícil hoje imaginar que outro ator pudesse incorporar tão bem o papel. Xavier tomou posse de Lampião, com todos os seus trejeitos físicos e psicológicos - foi de fato Virgulino.

Lenda - Este parece, afinal, ser o ponto central da história da Lampião e Maria Bonita. Cruzaram a fronteira do imaginário, tornaram-se lendas. Nunca ninguém será capaz de afirmar, com absoluta certeza, onde termina a realidade e começa a ficção.

Um dia antes da estréia na Globo, a imprensa já questionava se os fatos realmente haviam acontecido como seria mostrado na história Na época, a neta de lampião, Vera Lúcia Ferreira, então com 27 anos, dizia que os autores Aguinaldo Silva e Doc Comparato fizeram da série "uma ficção, uma fantasia, o que se justifica, já que a emissora não se propôs a fazer um documentário".

Comparato ponderou que não se tratava de escrever uma história verdadeira em oito capítulos. "Optamos pela ficção", disse. "Não uma ficção desvairada, mas com base em fatos reais, que recolhemos em nossas pesquisas", explicou. "O que resultou é que os fatos são verídicos e a ordenação deles é ficcional."

Um dos diretores, Paulo Afonso Grisolli (de Plantão de Polícia), colocou em dúvida até a possibilidade de se contar a história real de Lampião. "É um personagem histórico, mas também uma lenda nacional", afirmava. "O seriado retratou a morte de Lampião para deixar evidente que ela se deu por traição de um coiteiro", disse Grisolli. A reconstituição histórica da saga de Lampião é tão traiçoeira quanto a tocaia sofrida na vida real pelo herói nordestino.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 29981