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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Globo Data de Publicação: 19/11/1995 Autor/Repórter: Elena Corrêa
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MELODRAMA EM SEGUNDA VINDA
Ismael Fernandes é um especialista em televisão. Pesquisador do assunto há mais de 40 anos e autor do best seller "Memória da telenovela brasileira'', ele se prepara para ver uma obra sua no ar pela segunda vez.
Em 1984, Ismael teve sua primeira experiência como novelista, escrevendo "Meus filhos, minha vida", produzida no mesmo ano pelo SBT. A
história voltará a ser gravada no ano que vem pela mesma emissora, com o título "A roda da fortuna", adapta Regina Braga e com Irene Ravache no papel principal. Ele espera que sua história repita o sucesso da primeira vez:
- Em São Paulo a novela chegou a 20 pontos de audiência. No SBT, um índice como esse é uma vitória - orgulha-se o escritor.
Além de já estar trabalhando como consultor de uma produtora de televisão argentina, Ismael também está preparando mais uma versão do seu livro:
- No ano que vem lançarei uma edição atualizada, acrescentando novos dados ao que havia nas edições anteriores - adianta ele.
Em entrevista ao GLOBO, Ismael fala sobre televisão, sua novela e o projeto que está desenvolvendo na Argentina.
O GLOBO - Qual o enredo de "Meus Filhos, minha vida"? Mesmo chamando "A roda da fortuna" , neste "remake" do SBT, vai ser a mesma coisa?
ISMAEL FERNANDES - É um melodrama que se passa no cotidiano, será igual. Conta a trajetória de uma mãe que de repente, se vê sozinha. Um dos filhos casa com uma milionária e vai embora, outro vai preso e o terceiro, desaparece.
O GLOBO - Em que você se inspirou para criar esta história?
FERNANDES - Acima de tudo queria falar sobre as mães. Tinha assistido ao filme
"Laços de ternura" e segui a mesma linha para mostrar emoções primárias. Na primeira vez que a novela foi ao ar, em 1984, usei até músicas da trilha do filme e copiei a frase "todo mundo tem uma mãe".
O GLOBO - Não ficará semelhante a "Éramos seis", já que a mãe também será vivida por Irene Ravache?
FERNANDES - Não. É outra história, mas mãe tem em todas as novelas mesmo. Também será diferente da primeira vez que foi ao ar. Em 84, o SBT produziu com precariedade, hoje tem mais recursos.
O GLOBO - Você está acompanhando os trabalhos para a regravação da história?
FERNANDES - Entreguei toda a adaptação a Regina Braga, minha única dica é de que ela-trabalhe com as coisas simples da vida. Deve ser como "História de amor" da Globo, que usa muito o 'cotidiano, tem muito a ver com o público do SBT
O GLOBO - Já está na hora do SBT parar de investir em novelas de época?
FERNANDES - É preciso haver uma virada. A audiência caiu muito. O SBT tem uma estrutura enorme, uma cidade cenográfica maravilhosa, mas precisa modernizar a temática de suas novelas, fugir das tramas de época e investir no dia-a-dia.
O GLOBO - Está em seus planos voltar a escrever novelas?
FERNANDES - Estou com um projeto novo agora, para uma produtora de televisão argentina, a mesma que fez ''Além do horizonte'' que está passando na Manchete. Presto assessoria na parte de pesquisa e dramaturgia nas novas produções deles, ensinando uma linguagem parecida com a brasileira.
O GLOBO - Por que as novelas latino-americanas produzidas fora do Brasil têm uma qualidade tão baixa?
FERNANDES - Porque elas mantêm a linguagem do folhetim tradicional. A novela brasileira é que evoluiu, através dos textos de dramaturgos que vieram do teatro e do padrão de qualidade imposto pela Rede Globo. ''Além do horizonte" fracassou aqui porque é muito antiga, a produção e o elenco são maravilhosos, mas a linguagem é muito lenta.
O GLOBO - E o que ainda falta à telenovela daqui?
FERNANDES - Falta as emissoras oferecerem mais campo de trabalho. Tenho visto vários produtos fora do pais, e estamos anos luz à frente. O problema é que temos um elenco de mais de dois mil nomes, e apenas dez por cento estão trabalhando.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 30345