"SE OUVIR PIADINHAS, É UM BOM SINAL"
Por estar no espetáculo O Submarino, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, o gaúcho Guilherme Piva, 29 anos, não pôde aceitar o primeiro convite para, integrar o elenco de Xica da Silva na Manchete. Mas não demorou muito e o diretor Walter Avancini Lhe fez nova proposta: ele queria o ator no papel de Zé Maria, o gay que ensina Xica da Silva a usar sapatos e perucas chiques do século 18. O trabalho de composição de um homossexual veio como um desafio. ''Por enquanto ainda não ouvi piadinhas por onde passo, mas caso isso aconteça não vou me incomodar. É sinal de que sou um bom ator", diz Guilherme, que já fez mais de 30 comerciais e algumas
- Como surgiu o convite para fazer o Zé Maria em Xica da Silva?
- No inicio, meu personagem seria o Bonifácio. Mas, na época, fiquei impossibilitado por estar atuando na peça O submarino, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Dai, o papel em Xica passou para o Fernando Vieira. Mas no último dia do espetáculo, o Walter Avancini (diretor da novela) me chamou, às pressas, para entrar no lugar do Marco Pólo, que saiu da trama depois de ter gravado várias cenas como o Zé Maria.
- Foi complicado aceitar interpretar um personagem homossexual?
- Não. Fui seduzido pelo perfil do personagem, além do tipo de composição e da trajetória pela qual ele passaria. Não tive tempo algum para compô-lo e fui seguindo a orientação do Avancini, que não queria um estereótipo.
- O Zé Maria não é um homossexual contemporâneo, já que se trata de uma história passada no século 18. Que tipo de laboratório você fez para compor o seu personagem?
- O diretor sugeriu que eu buscasse a ingenuidade de uma menina no olhar. Daí, pintei o meu cabelo de ruivo e reforcei com um aplique cacheado. Além disso, escolhi uma maquiagem bem alva, como costumavam fazer os homens que viviam na corte francesa.
- O seu personagem fez mesmo parte da história da Xica da Silva?
- Creio que ele é mais ficcional. No filme Xica dc Silva, o José Wilker fez um personagem parecido com o Zé Maria. Mas era um fiscal afetado que a Xica tentou seduzir.
- O público tende a transformar a ficção em realidade. Já pararam você na rua para perguntar se também homossexual?
- Por enquanto, não recebi nenhum tipo de manifestação nesse sentido. A abordagens do público, na rua têm sido até elogiosas.
- Você não teme ficar rotulado por interpretar um personagem gay?
- Não, pelo contrário. Fazer um papel como esse é muito difícil e, se ele for bem desempenhado, só vai 'mostrar que sou um ator capaz de fazer qualquer tipo de personagem.
- O público gay já o procurou para fazer elogios ou criticas?
- Ainda não. A novela está no ar há apenas um mês e só agora o Zé Maria está tendo mais espaço.
- Qual é a função do seu personagem em Xica da Silva?
- O Zé funciona como um elo entre Xica e os brancos, quando ensina à negra os costumes da corte. Ambos têm em comum a discriminação que sofrem.
- Fale um pouco sobre seus outros trabalhos na televisão.
- Fiz pequenas participações, como na minissérie Incidente em Antares, em 1994, na Globo, e na novela Malhação, no ano passado.
