RITA LEE ESBANJA ESPÍRITO ROQUEIRO NA GRAVAÇÃO DO SEU PROGRAMA 'ACÚSTICO'
Cantora, compositora, subversiva. Rita Lee, 51 anos de vida, quase o mesmo tempo dedicado a esculpir um rock'n'roll de sotaque tupiniquim, subiu ao palco do Teatro João Caetano anteontem, iniciando a gravação de um vídeo e um disco acústicos sob a chancela da MTV, repaginando seu percurso musical. Ela repassou sucessos como "Alô, alô marciano" e apresentou inéditas como "O gosto do azedo" - de autoria do filho Beto Lee - para um público de convidados que pode assisti-la ao lado de nomes como Cássia Eller, Paula Toller, Titãs e os instrumentistas Armandinho e Oswaldinho, sob a direção musical do marido, Roberto de Carvalho. O ponto de maior combustão emotiva da noite ocorreu no dueto de Rita com Milton Nascimento em "Mania de você".
- Esta cantora fútil que vos fala está emocionada, quase chorando - disse Rita, que sob os aplausos do público de pé, presenteou o cantor com uma camiseta com a insrição "God 1st" ("Primeiro Deus") e ainda alterou o final da letra da música: "Nada melhor do que nada na cuca/Só pra deitar e rolar com Bituca".
Cercada por um cenário de inspiração setentista de Gringo Cardia, Rita reuniu uma platéia diversificada. De representantes da Jovem Guarda como Jerry Adriani e Rosemary, até o baterista Bacalhau, integrante do grupo Planet Hemp, passando pelos compositores Alvin L. e Cris Braun, todos foram ouvir a compositora de frases impagáveis, como no bate-papo no palco com Cássia Eller, antes de "Luz del fuego".
- Aí está a Cássia de cabelo azul, figura ensolarada. Você toma Viagra? - perguntou Rita.
- Sou "espada"! - respondeu Cássia às gargalhadas.
O público foi respeitoso, limitando-se a pedir canções como "Miss Brasil 2000", que não entra no CD, com exceção de um ou dois que, bola fora, insistiam em gritar "Romário!".
- Conheço os espíritos daqui. Foi em 73 ou 75 que lancei aqui o "Fruto proibido" - lembrou Rita, que insistiu em trocar de óculos escuros a cada canção e abusou no uso de cornetas circenses.
Ela repetiu algumas canções até quatro vezes, caso de "Gita", e agradeceu a paciência do público. Desnecessário.
SÉRIE TEM FUNCIONADO COMO PASSAPORTE PARA O SUCESSO
O s projetos acústicos patrocinados pela MTV, que estão para ser extintos nos EUA, tornaram-se sinônimo de grandes vendas no Brasil. Vide os casos dos CDs "Acústico" dos Titãs (1,5 milhão de cópias) e de Gal Costa (que ultrapassou 500 mil cópias).
O de Rita Lee, que começa a chegar ao mercado dia 1º de agosto, teve um simpático arranjo para "Agora só falta você" escolhido para a abertura. A idéia de sua gravadora é que a tiragem inicial de lançamento gire em torno de 250 mil cópias.
- A companhia investiu US$ 350 mil na produção de vídeo e CD - informou Max Pierre, diretor-artístico da PolyGram. - Durantes cinco meses, através de um site na Internet, fãs escolheram o repertório deste acústico.
No roteiro de 19 canções, destaque para a empolgação de "Papai me empresta o carro", com os Titãs; a cumplicidade de Paula Toller em "Desculpa o auê"; além do dueto apaixonado com Milton Nascimento.
Roberto de Carvalho (piano e violões) organizou uma banda de dez músicos, além de um grupo de cordas para acompanhar a cantora. Os arranjos abriram espaço para os virtuoses Oswaldinho do Acordeão e Armandinho (bandolim), que brilharam em canções como "Balada do louco" e "Ovelha negra".
Entre as inéditas, cantou "M te vê", fazendo uma crônica do país entre a Copa do Mundo e as eleições, e "O gosto do azedo", com belo arranjo para violoncelo.
- Rogério Duprat, melhor maestro do Brasil, é o autor do arranjo - aplaudiu Rita.
