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Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo Data de Publicação: 07/02/1999 Autor/Repórter: Eduardo Elias
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CRISE AMEAÇA 'ILHA RÁ-TIM-BUM'
Maior projeto da Cultura pode não vingar por problemas de seu parceiro, o Sesi
O principal projeto da Cultura para 99, o infantil Ilha Rá-Tim-Bum, está ameaçado. O Serviço Social da Indústria (Sesi), parceiro da emissora na produção, enfrenta dificuldades financeiras. Pagou só a primeira das dez parcelas de R$ 250 mil - previstas em convênio firmado em dezembro de 1997. Sem esse dinheiro, a Cultura não tem condições de produzir a série de 90 capítulos.
"Temos um déficit mensal e a receita da entidade vem diminuindo numa velocidade muito grande", diz o assessor da presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp, que administra o Sesi), Hugo Barreto. "Nossa prioridade é a manutenção da estrutura cotidiana."
A saúde financeira do Sesi depende das folhas de pagamento das empresas. Com a queda no nível de produção no Estado (em 98, a Fiesp registrou baixa de 1,9% em relação a 97), a entidade viu a fonte secar. Teve de resguardar verbas para projetos próprios, nas áreas de saúde e educação, além do pagamento de 12,3 mil funcionários.
O presidente da Fundação Padre Anchieta, Jorge da Cunha Lima, espera começar a receber as parcelas do Sesi em junho, quando, então, poderia ter início a produção do infantil. "O contrato está em plena vigência, eles só nos pediram um prazo para fazerem as liberações", diz. Ele acredita que poderá lançar a atração em setembro.
Encarregado dos assuntos culturais do Sesi, Barreto acha que a melhor saída para a produção é a entrada de novo parceiro. Ele diz que uma eventual interrupção dos pagamentos foi prevista pelo próprio convênio. Uma cláusula do contrato permite "a busca de aportes financeiros", a serem deduzidos "proporcionalmente da contribuição a ser alocada pelo Sesi".
Cunha Lima admite que o apoio financeiro, seja do Sesi ou não, é fundamental para o projeto orçado em R$ 7 milhões. Ele estuda a co-produção da atração com empresas estrangeiras, como Nickelodeon, Fox ou Venevisión. O diretor de Programação da Cultura, Rogério Brandão teve conversas com Roberto de Oliveira, diretor de Desenvolvimento de Projetos da Globo, sobre uma associação. "Seria a repetição da parceria de Vila Sésamo", diz.
Turbulência - A primeira parcela para o Ilha Rá-Tim-Bum foi paga pelo Sesi em janeiro do ano passado. Logo em seguida, as duas empresas (que foram parceiras em produções como Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum) concordaram em adiar os demais desembolsos. "A Cultura passava por uma turbulência por causa da sucessão na emissora", diz Barreto, do Sesi.
Reeleito presidente da Fundação Padre Anchieta, Jorge da Cunha Lima começou a nova gestão em junho. Em seguida, quando o projeto seria retomado, tudo se inverteu: veio o processo eleitoral da Fiesp. Em outubro, Horácio Lafer Piva assumiu a vaga de Carlos Eduardo Moreira Ferreira. Foi quando se agravou a queda de receita do Sesi.
Preparação - Na Cultura, cerca de 15 pessoas vêm trabalhando desde o meio do ano na preparação da série. Segundo Cunha Lima, a emissora investe R$ 100 mil por mês na empreitada. Há testes da cenografia virtual, feita em computador, para ampliar a profundidade dos estúdios. Alguns bonecos vem sendo desenvolvidos, como o morcego, o minotauro e a galinha gorducha.
Há também maquetes e estudos de cenário, feitas com material de baixo custo, como espuma e plantas secas. O chefe de Cenografia da emissora, Marcelo Oka, acredita que 25% do programa tenha sido preparado. Segundo a diretora do Departamento Infantil da emissora, Bia Rosemberg, cerca de 30 roteiros estão escritos - alguns ainda sujeitos a mudanças. Cada programa teria duração de meia hora, com histórias completas, em que um grupo de crianças vive aventuras numa ilha encantada. Elas conversam com árvores, pedras e animais, valorizando a integração do homem com a natureza. Elenco e diretor ainda não foram definidos.
ORÇAMENTO DA CULTURA AUMENTOU
Canal comemora verba de R$ 54,5 milhões, mas arrecada menos que o esperado em publicidade
A venda de anúncios institucionais na Cultura, iniciada em outubro, está aquém da expectativa inicial: arrecadar R$ 10 milhões este ano. Em janeiro, a StarSat/Connect (que negocia pela emissora) comercializou R$ 400 mil, de acordo com o diretor da empresa Marcos Amazonas.
"O processo está começando: fizemos uma série de pesquisas e, em março, vamos fazer um evento para divulgar a Cultura como opção para o mercado publicitário", diz Amazonas. Na emissora, só são aceitos comerciais de empresas, não de produtos.
A dotação orçamentária para este ano, entretanto, traz boas notícias para a Cultura. O governo estadual vai repassar, neste ano, R$ 54,5 milhões, ante R$ 49 milhões de 98. Há ainda outros R$ 5,6 milhões, previstos principalmente para investimentos, que estão sujeitos a uma liberação do governo.
Ex-conselheiro da Fundação Padre Anchieta, o deputado estadual César Callegari (PSB) acredita que o aumento no orçamento pode ajudar a emissora a recuperar a antiga audiência. Segundo ele, a Cultura mantinha a faixa dos 10 milhões de espectadores e hoje é vista por cerca de 3 milhões. "É preciso que a Cultura aumente o número de espectadores para diminuir a relação custo-benefício para a sociedade", diz Callegari.
PRODUÇÃO FOI ANUNCIADA HÁ QUATRO ANOS
Maio/94 - Após quase dois anos de produção, Cultura lança o Castelo Rá-Tim-Bum, a um custo de R$ 3 milhões.
Junho/95 - Jorge da Cunha Lima assume a presidência da Fundação Padre Anchieta e planeja o lançamento da "versão rural" do Castelo. Já fala numa possível parceria com o Sesi.
Julho/95 - Cunha Lima diz que o contrato com o Sesi será assinado em agosto.
Dezembro/97 - A Cultura e a Fiesp assinam contrato de convênio para a produção do Fazenda Rá-Tim-Bum, que teria os mesmos personagens do Castelo. A estréia é anunciada para junho de 1998.
Janeiro/98 - Sesi paga a única das dez parcelas de R$ 250 mil previstas.
Junho/98 - Cunha Lima é reeleito. A produção passa a chamar-se Ilha Rá-Tim-Bum. Equipe começa a trabalhar. Previsão do lançamento: novembro.
Dezembro/98 - O Ilha Rá-Tim-Bum é anunciado para o primeiro semestre de 1999.
Janeiro/99 - Produção é anunciada para setembro.
CANAL FESTEJA OS 30 ANOS
Em junho, a Cultura pretende comemorar o 30º aniversário com uma programação especial. A aposta é na reapresentação dos grandes momentos da emissora.
O projeto começa em maio, com a exibição de uma série de vinhetas e o testemunho de personalidades. Em junho, voltam ao ar clássicos da emissora, como Vox Populi, Bambalalão, Revistinha, Enigma e Catavento, além dos antigos teleteatros.
A emissora prepara também um grande show, com uma personalidade da MPB, a ser realizado no Parque do Ibirapuera. No dia 16, data do aniversário, o Roda Viva será sobre a TV. "Os jornalísticos farão a ligação entre passado e presente, mostrando reportagens antigas e suas consequências e desdobramentos", explica o diretor de Programação, Rogério Brandão.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 47408