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Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 02/09/1995
Autor/Repórter: Edmundo Barreiros

ECOS DO CANAL POP

MTV festeja 5 anos de influência sobre os jovens e o mercado musical brasileiro

Com a primeira cerimônia de entrega do Vídeo Music Awards brasileiro, a MTV consolidou definitivamente sua importância no meio musical do pais. O evento, que aconteceu no Memorial da América Latina, premiou os melhores artistas de música jovem que tiveram seus trabalhos veiculados em clipes na emissora. A festa foi uma verdadeira consagração da MTV Brasil, que está completando cinco anos de existência.

A primeira transmissão da MTV Brasil aconteceu em 20 de outubro de 1990. Para muitos, seria apenas mais um veiculo de divulgação de música pop importada. Cinco anos mais tarde, porém, até seus mais ; veementes críticos foram obrigados a se render à enorme influência do canal. "Temos dois pontos de audiência pelo Ibope, o que deve ser a maior audiência de uma MTV no mundo. Esse sucesso se deve à falta de alternativas, mas, também, a uma preocupação de pensar globalmente e agir localmente. A MTV brasileira tem uma linguagem nossa", comemora Giancarlo Civita, 31 anos, um dos sócios e diretor geral da MTV Brasil.

Não foi um início fácil. Nos primeiros instantes de operação, um problema técnico levou a emissora a sair do ar por alguns minutos. Hoje, no entanto, ela atinge 12 milhões de residências em 140 cidades. "Este ano estamos pela primeira vez ganhando dinheiro", comemora Civita.

Pesquisas mostram que 49% dos jovens brasileiros entre 12 e 34 anos têm o hábito de assistir ao canal de música. Um público segmentado que se identifica com a programação da emissora, o que não acontece por acaso. "A média de idade das equipes de todas as MTVs é de 26 anos. Com gostos e hábitos iguais ao do seu público", diagnostica Janet Scardino, 36 anos, vice-presidente de marketing internacional da matriz americana.

As influências da MTV refletem-se principalmente no comportamento dos adolescentes e na linguagem da televisão. Muitos jovens hoje vestem-se, agem e falam como os ídolos que vêem na MTV. "A relação entre música e moda é muito forte", lembra Cezar Marques, 29 anos, gerente de marketing das grifes Fabricatto e Compulsive. Tanto é verdade, que a emissora criou até um programa dedicado ao mundo da moda, o MTV a go-go.

Na propaganda de TV é gritante a presença de elementos antes exclusivos da MTV. "O pessoa que faz clipe é mais aberto à experimentação. Os clipes, muitas vezes, foram vanguarda na televisão com elementos como desenhos de moldura de imagem", diz Lula Vieira, 47 anos, diretor da agência de publicidade VS Scalla. Para Jodele Larcher, diretor do programa Som Brasil, a influência da MTV não é tão grande em programas musicais quanto na propaganda. Mas reconhece que após seu desembarque no Brasil, alguma coisa mudou. "Muitas das coisas que a MTV trouxe, como a edição muito rápida, já eram feitas por aqui Mas com sua chegada, o público aprendeu a ler as imagens com uma rapidez maior", resume.

Mas onde a influência da MTV poderia parecer mais óbvia, na vendagem de discos, ela se mostra limitada. O mercado ainda é dominado pelas rádios. "Meu álbum que teve mais clipes, Mondo cane, com quatro, vendeu 30 mil cópias. Com Eu e Memê, Memê e eu não fiz clipe e ele vendeu mais de 500 mil", garante Lulu Santos. A MTV, no entanto, é de fundamental importância para divulgar novos músicos. "Ela é um grande passo para quem tem boas idéias, mas não consegue chegar à grande mídia", afirma Yucca, tecladista e mentor intelectual do grupo O Rappa. A banda foi uma das escolhidas para receber o selo Sim MTV, aval de qualidade criado este ano pelo canal.

Mas a MTV ajudou a mudar o perfil do mercado fonográfico. "Atuando junto a um público formador de opinião, abriu espaço para vários artistas novos, nacionais e internacionais", afirma Leo Monteiro de Barros, diretor de marketing da gravadora BMG Ariola. Dentro desse mercado, quem mais cresceu foram as gravadoras independentes, que agora contam com um ótimo canal de divulgação de seus produtos. "É mais fácil colocar um clipe, mesmo de produção barata, na MTV, do que em rádios", diz Mayrton Bahia, dono do selo Radical Records.

Apesar de ainda ser o determinante nas vendas de discos, o rádio já se rendeu à MTV. "Absorvemos a programação do canal, com ótimos resultados, e usamos seu jornalismo como fonte de informação", diz Eduardo Andrews, 45 anos, gerente artístico do Sistema de Rádio Jornal do Brasil e coordenador de programação da Rádio Cidade.

O RITMO DOS VJ's

CUCA

Cuca, musa dos adolescentes, empresta sua beleza à MTV

desde o inicio. "Me chamaram para fazer novela, mas não quero ser atriz. Poderia me dar bem mas gosto do meu trabalho", diz, satisfeita. Às vésperas de completar 27 anos, sabe que não tem mais muito tempo neste trabalho. "Tenho. no máximo mais uns cinco anos. Mas se tiver que sair da frente das câmeras, paro de fazer televisão", avisa.

MARIA PAULA

Se Thunder não se deu bem na troca para a Rede Globo, a ex-VJ Maria Paula firmou-se como âncora dos programas da turma do Casseta & Planeta, depois de passar pela trágica experiência no comando do Jogo da Radical Chic. Ainda bem que a aventura durou pouco. A apresentadora deixa claro que não está satisfeita em emprestar seu talento para programas alheios e acalenta o sonho de ter um só seu.

GASTÃO

Gastão também estreou em televisão junto com a MTV. Apaixonado por rock — tocou em várias bandas desde 1981 e é, atualmente, integrante do grupo Rip Monsters — não pensa em deixar a atividade. "Faço o que gosto. É o emprego dos meus sonhos." Relaxado, avisa que há um apresentador na MTV dos EUA com mais de 40 anos. Se tiver que sair do ar, candidata-se a continuar na emissora em outros cargos.

RODRIGO LEÃO

O VJ Rodrigo Leão atualmente faz jingles para agências paulistas de publicidade e lidera o grupo pop Professor Antena. "A MTV foi uma experiência deliciosa. Com o emprego consegui largar a faculdade. Foi muito bacana. Era uma molecada que podia ser imatura, mas tinha muita energia criativa", diz Leão, aparentemente sem mágoas, mas saudoso da carreira abandonada.

THUNDERBIRD

O VJ Luís Thunderbird foi, durante três anos, o rosto mais popular da MTV. Mas trocou de time e foi para a Rede Globo, onde não conseguiu renovar contrato para o seu TV Zona. Líder do grupo de rock Devotos de Nossa Senhora Aparecida, ele agora tenta voltar para a MTV, onde assumiria um programa. O diretor de programação da emissora, André Waisman, confirma as negociações com Thunder.

DANIELE

A ex-VJ Daniele Barbieri não permaneceu na MTV durante muito tempo. Demitida da emissora após protagonizar uma propaganda de cigarros, tentou apresentar clipes em várias outras emissoras. Mas acabou não emplacando e, segundo depoimentos de amigos, ela hoje mora no Canadá, para onde foi acompanhando seu marido que ganhou uma bolsa de estudos.

'SEGUE O SECO' LEVA 5 TROFÉUS

Autor Repórter: Marili Ribeiro

SÃO PAULO — Festa digna do badalado Oscar de cinema, pelo menos na duração de quase três horas, e transmitida ao vivo para 140 cidades, a entrega dos prêmios do 1° MTV Vídeo Music Awards Brasil reuniu 1.800 convidados, anteontem, no Memorial da América Latina. Mas, como admitiu a atriz Marisa Orth, mestre de cerimônias, "se até Paul Newman erra na entrega do Oscar, por que eu não?". Foram justamente os momentos imprevisíveis que roubaram a noite. Como quando a irreverente atriz Regina' Casé destronou o repórter da MTV, Gastão Moreira, encarregado das entrevistas no bachstage, e perguntou de bate-pronto à estrela da noite Marisa Monte: "O que você acha da participação de sua mãe na presidência do júri?"

O videoclipe de Marisa, Segue o seco, levou cinco dos dez prêmios do júri. O da escolha da audiência foi para o clipe Uma brasileira, do Paralamas do Sucesso, que irá aos EUA participar do 12° MTV Vídeo Awards.

O cineasta Arnaldo Jabor foi uns dos que não se conformaram com o número de prêmios ganhos por Marisa Monte. "Tinha clipes melhores. Segue o seco parece filme nordestino dos anos 50, com recursos óbvios de silhuetas contra a luz", disparou. Já o cantor Arnaldo Antunes não se incomodou com a overpremiação. "O fundamental para o meio musical é que essa festa vingue", analisou. Rita Lee, com enormes asas de anjo, agradeceu aos filhos, netos e bisnetos a homenagem (ela e Raul Seixas ganharam a honraria) e cunhou uma das boas frases da noite: "Roqueiro hoje tem cara de bem-sucedido. No meu tempo não era bem assim..." Talvez ela tenha razão. Alguns roqueiros hoje incorporam mais o espírito família. O Paralamas Herbert Vianna, por exemplo, apontou como uma das vantagens de ir para Nova Iorque a possibilidade de comprar fraldas para a filha que está a caminho. Abaixo, os premiados:

ROCK — Raimundos (Bé-a-bá); POP — Paralamas do Sucesso (Uma brasileira); MPB — Marisa Monte (Segue o seco); RAP — Gabriel o Pensador (175 nada especial); BANDA REVELAÇÃO — O Pato Fu; DIREÇÃO — Cláudio Torres e José Henrique Fonseca (Segue o seco); FOTOGRAFIA — Breno Sibeira (Segue o seco); EDIÇÃO — Sérgio Mekler (Segue o seco); DEMOCLIPE — The Teahouse Band (Leaving it all behind); VIDEOCLIPE DO ANO — Segue o Seco (Marisa Monte); ESCOLHA DA AUDIÊNCIA — Paralamas do Sucesso (Uma brasileira).

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 48928