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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Meio & Mensagem Data de Publicação: 28/06/1999 Autor/Repórter: Lúcia Faria
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INTERATIVIDADE MARCA A NOVA REDE TV!
A Rede TV!, adquirida pela TV Ômega, apresenta nova programação a partir de agosto e promete mexer com o mercado. Pretende ser uma emissora interativa, já que tem a seu favor a plataforma de 15 mil linhas telefônicas da TeleTV, empresa do mesmo grupo que presta serviços a outras emissoras. Com esse suporte tecnológico será possível realizar pesquisas de opinião em tempo real, comerciais interativos e venda de produtos no mesmo instante em que um programa está no ar. Segundo Marcelo de Carvalho Fragali, sócio de Amílcare Dalevo Jr., a nova rede adotará postura agressiva na comunicação com o mercado. O investimento do grupo é superior a R$ 400 milhões, sendo R$ 230 milhões em dívidas e mais R$ 100 milhões em aquisição de equipamentos. O objetivo de faturamento no primeiro ano é de R$ 180 milhões. À frente da emissora não estará um diretor geral, mas um comitê formado por cinco superintendentes. Fragali, engenheiro e filho de publicitário, trabalhou como gerente de merchandising na extinta Apoio, da Rede Globo. Dallevo, também engenheiro, voltou-se à área tecnológica. Começou como gerente de informática do Citibank. Depois montou a Tecnet, empresa-mãe do grupo. A união dos dois ocorreu na hora de montar a TeleTV.
Meio & Mensagem — Em primeiro lugar, vamos esclarecer: qual empresa do grupo comprou a TV Manchete, a Tecnet, a TeleTV ou a TV Ômega?
Marcelo de Carvalho Fragali — Primeiramente nós não compramos a Manchete. É um engano dizer que compramos a Manchete. As concessões de radiodifusão do Brasil não pertencem a ninguém, nem a pessoas físicas nem a jurídicas. Elas pertencem, em última análise, ao povo brasileiro. E o povo brasileiro, por delegação aos poderes Executivo ou Legislativo, confere a concessão por períodos determinados de tempo a determinadas pessoas jurídicas ou físicas. Assumimos as concessões dos canais VHF nas praças de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza e Belo Horizonte, a rede de afiliadas e retransmissoras, e repetidores que compunham a antiga Rede Manchete.
M&M — Certo, mas na hora em que adquiriu essa concessão o grupo desembolsou milhões de dólares.
Fragali — Lógico, lógico, mas não compramos a empresa TV Manchete Ltda. A concessão foi dada pelo governo à TV Manchete Ltda. Um ano atrás mais ou menos, o governo declarou que não iria renovar essa concessão para a empresa TV Manchete Ltda. porque ela não tinha condições de prestar o serviço. A TV Ômega Ltda., empresa do Grupo TeleTV — que tem também a Tecnet, Tecplan e Ômega Produções —, solicitou ao Ministério das Comunicações a transferência direta das concessões da TV Manchete Ltda.
M&M — Qual o valor da transação, já que os números divulgados são muito diferentes?
Fragali — A TV Manchete Ltda. continua com seus ativos e uma série de seus passivos. Ela foi vendida para um grupo de pessoas oriundas da área financeira, tendo o banqueiro Fabio Saboya como um dos dirigentes. Parece que eles farão dela uma produtora, enfim, saldar as dívidas etc. A TV Ômega Ltda., portanto, ficou com a concessão e para isso assumiu os seguintes compromissos. Primeiro, o passado total dos funcionários da TV Manchete, retroagindo a folha de pagamento a agosto de 1998. Entre setembro e dezembro ocorreu uma série de demissões, imotivadas ou não pagas. Para ressarcir todos os funcionários voltamos a folha para agosto do ano passado e estamos provendo recursos para o pagamento dos atrasados até maio. Além disso, assumimos o provimento de recursos para pagamento dos salários novos por 90 dias. Após os 90 dias termina a estabilidade e vamos absorver parte deles. Segundo, assumimos as chamadas dívidas privilegiadas, que são essas dívidas mormente com INSS, FGTS. Tudo isso totalizam aproximadamente R$ 230 milhões.
M&M — Você está incluindo aí a pendência com o INSS descoberta recentemente?
Fragali — Nós fomos ao INSS e perguntamos de quanto era a dívida. Nos disseram o valor, 130 milhões, e como seria o parcelamento de lei. Pagamos uma parte e tudo bem. Agora uma das coordenadorias do INSS do Rio de Janeiro disse que existia mais uma dívida. Isso está sendo apurado pelo departamento jurídico. Qualquer outra dívida que for encontrada, e que seja comprovadamente referente à TV Manchete Ltda., será paga por nós. Isso está no contrato entregue no Ministério das Comunicações.
M&M — O que se questiona é que, como você ressaltou, emissora de TV é uma concessão do governo. Justamente por esse motivo, o governo não foi muito complacente com a TV Manchete, deixando acumular dívidas tão elevadas com o INSS? Você acha essa postura correta?
Fragali — Existiam duas realidades. O governo atual foi muito correto, avaliou que não havia mais condições técnico-econômico-financeiras e declarou que não iria mais renovar a concessão. Não acredito que de hoje em diante haja cenário — não só para uma emissora de televisão, mas para qualquer grande empresa — para esse tipo de benevolência fiscal. Nós, nas nossas empresas, pagamos sempre todos os impostos e a TV Manchete, por uma série de razões, e outras milhares de empresas do País não pagaram. Nossa operação foi um Proer ao contrário.
M&M — Com quanto o Pedro Jack Kapeller ficou?
Fragali — Tenho uma cláusula de sigilo no contrato. Não podemos revelar nada sob pena de sofrermos processos contratuais etc. Sob o ponto de vista deles, o negócio foi basicamente uma operação de assunção de dívida.
M&M — Qual o número de funcionários hoje e como está o programa de demissão voluntária?
Fragali — Assumimos 1.621 funcionários. É uma folha bastante expressiva. O nosso compromisso é, dentro de 60 dias, apresentarmos uma espécie de programa de demissão incentivada. Naturalmente entre esses 1.621 funcionários existem várias categorias. Há uma categoria que está trabalhando em outros lugares; outra está exercendo empregos temporários; há ainda quem não está fazendo nada e passa fome. Estes foram sempre a nossa principal preocupação, e do sindicato também. Há uma quarta categoria, que são os funcionários que não estão passando fome, mas que por uma razão ou outra não querem continuar trabalhando. Esses funcionários continuam hoje registrados na TV Manchete. A TV Ômega está provendo recursos para o pagamento deles, ninguém está contratando em carteira pela TV Ômega. Depois desse plano de demissão incentivada os que quiserem aderir vão sair da empresa e parte do restante será absorvida por nós.
M&M — A intenção é ter quantos funcionários?
Fragali — Hoje a emissora está muito inchada. Acho que teremos a metade do quadro de funcionários. Daí para menos.
M&M — Isso por que vocês pretendem trabalhar com muita produção independente?
Fragali — Não é que vamos trabalhar com produtores independentes. Nos primórdios da televisão ela não tinha onde buscar subsídios, fosse artístico, cênico, ou de qualquer sorte. Hoje tem, e a tendência é ter um crescimento maior. Não há mais no Brasil condições de qualquer empresa se encaixar em um modelo econômico-financeiro inviável. Uma emissora de televisão é um negócio. Sendo uma empresa particular, tem de gerar receitas maiores do que as suas despesas, sob o risco de parar de existir. Além de ter hoje relevantes fontes externas de produção, de coisas compradas prontas, precisa encaixar isso em um módulo economicamente viável. E os modelos economicamente viáveis, hoje, indicam uma operação enxuta, eficiente, tecnicamente avançada.
M&M — Como você e o Amílcare Dallevo Jr., seu sócio, vão dividir a atuação na Rede TV!?
Fragali — A Rede TV! será dirigida por um comitê executivo formado por um diretor superintendente comercial, um diretor superintendente artístico e de programação, um diretor superintendente de jornalismo, uma superintendência de planejamento, operações e recursos técnicos, uma superintendência financeira. Esse comitê se reporta aos acionistas. Não teremos um diretor geral. Dentro de uma determinada periodicidade esse comitê se encontra, gera resultados e é cobrado das metas estabelecidas. No dia em que o caminhão estiver 100% em marcha teremos uma atuação de supervisão do conselho.
M&M — Quais são os nomes que compõem esse comitê?
Fragali — Os nomes serão anunciados em primeira mão para o Meio & Mensagem daqui a exatamente 15 dias. É um compromisso que firmei com o nosso pessoal. O que posso dizer hoje é que estamos formando um dream team. Será um verdadeiro time de estrelas. É óbvio que vamos aproveitar pessoas da Manchete. Na Manchete há talentos brilhantes que mostraram por muitos anos ser possível trabalhar com dificuldades, gerando resultados muito expressivos. Teremos o Michael Jordan jogando em cada um dos postos dessa televisão.
M&M — Pessoas como Roberto Muylaert, Walter Zagari...?
Fragali — Você é quem está dizendo (risos). Eu não estou afirmando nada, só digo dentro de 15 dias. Você nem imagina quais nomes são. Eu mesmo não acredito. É o time mais profissional reunido nos últimos 30 anos para tocar uma televisão. Os maiores talentos hoje do mercado em cada uma das áreas.
M&M — O Osmar Gonçalves, atual superintendente comercial, permanece na emissora?
Fragali — Não posso afirmar, nem com relação à área do Osmar, nem com relação a nenhuma outra área sobre quem sai ou quem fica. O que sei é que tanto o Osmar como muito outros foram responsáveis por excelentes performances da televisão, não obstante os grandes obstáculos que tinham.
M&M — Como será a grade de programação?
Fragali — A grade tem alguns parâmetros muito definidos na nossa cabeça. O principal é que não faremos nada de teledramarturgia. De um lado é muito caro; de outro lado, verifica-se hoje uma queda de audiência para 50% dos níveis de dez anos atrás. Então, por que vou investir em um negócio que é mais caro que todos os outros, que só se justifica se houver uma economia de escala, que está claramente em declínio em termos absolutos de audiência, e que tem hoje a Globo produzindo uma das melhores teledramarturgias do mundo? Não queremos competir nisso. A grade, portanto, será apoiada em quatro pés básicos. Um deles é o jornalismo. A Rede TV! pretende ser o grande jornalismo, em modernidade, em avanço tecnológico. Será um jornalismo tecnicamente igual ou melhor ao que existe no mundo em termos de equipamentos, de processos, de métodos. Vamos privilegiar o nacional sobre o internacional e o local sobre o nacional. O outro pé muito importante da grade é a programação esportiva. Com uma ressalva: entraremos em muita pouca bola dividida. Não me interessa nada transmitir um evento que todos transmitem. Se você tem um evento, que pode não ser a final do Corinthians e Palmeiras, mas é interessante, e você transmite sozinho ou com mais um, pode conseguir resultado muito significativo. O tênis, exclusividade nossa, deu seis, sete pontos de audiência, mas é uma audiência altamente qualificada. O comercial atinge uma parcela importantíssima do mercado.
M&M — Essa situação não é forçada por que a Rede Globo está cercando bem os eventos esportivos?
Fragali — Não, existe uma série de coisas muito interessantes. Tem amistosos, partidas fora dos grandes campeonatos. Esporte não é só futebol. Futebol é o grande esporte, sem dúvida, mas há outras possibilidades muito interessantes de transmissão. Com uma vantagem: a Globo tem dificuldade de flexibilizar horários. O terceiro parâmetro são os filmes. Teremos uma vasta carga de filmes e algumas minisséries, aí sim algumas nacionais e outras internacionais. Na nossa televisão, o anunciante, e principalmente o telespectador, terão um grande horário de bons filmes diariamente e particularmente no fim de semana.
M&M — Falta então o quarto pilar da programação. Qual será?
Fragali — Serão programas de artistas — chamamos de programas individuais, talk shows, auditórios etc. —, numa linha bastante pragmática sob o ponto de vista de mercado. Não me interessa nada um programa que dê 30 pontos de audiência e que eu não fature. Mas me interessa muito um programa que dê dez, 12 pontos de audiência e eu fature. Não faremos uma programação de sexo, nem de violência, nem de exploração de doenças, nem de baixaria. Lógico que não somos eruditos, absolutamente. Mas dá para fazer um entretenimento familiar, popular, sem cair no popularesco.
M&M — Quais os artistas já contratados? No jornalismo fala-se no Paulo Henrique Amorim.
Fragali — O Paulo Henrique é o único nome que vou abrir para você hoje. Já contatamos alguns nomes interessantes do ponto de vista artístico, mas estarei furando o meu novo diretor artístico, que vai lhe dar essa notícia em 15 dias. O Paulo Henrique Amorim tem um projeto bastante interessante, e será utilizado naquilo que ele tem de melhor, a informação econômica de alto nível. A nova programação vai ao ar a partir de agosto. Não que a partir de agosto viraremos uma chave e toda a programação da televisão dos próximos dez anos estará no ar. É evidente que não. Mas a partir de agosto vai ter a cara daquilo que ela será.
M&M — Como vocês pretendem se comunicar com o mercado? Como vão atrair os anunciantes?
Fragali — De duas maneiras. Teremos uma campanha institucional criada pela Fischer América. É uma campanha brilhante, acho que nunca foi feita tão profissionalmente e com tanto cuidado nos seus objetivos e nas suas metas, mostrando ao mercado que há uma alternativa para o anunciante colocar o seu dinheiro. Além disso, vamos revolucionar em táticas muito agressivas de atuação no mercado publicitário. Primeiro, pelo time com que iremos trabalhar. Segundo, estaremos presentes em toda a série de atividades onde hoje, por desleixo, falta de apetite ou comodismo, as televisões não estão. Onde houver uma feira de anunciantes, um encontro, um seminário, estaremos presentes. Vamos fazer concursos, campanhas, programas de incentivo, brincadeiras, premiações. Não estamos fazendo televisão por esporte, por política, por religião. Resolvemos fazer TV porque acreditamos que é o grande negócio do próximo milênio, é a grande oportunidade do Brasil. Vamos imediatamente subir a um dos três lugares do pódio. O nosso objetivo de faturamento imediato, nos primeiros 12 meses é de R$ 180 milhões. Não queremos ser a Globo, até porque acho que não há espaço no Brasil, e jamais haverá, para uma nova Globo. O Brasil e o mundo estão caminhando em um grau de profissionalismo no qual não existirá nunca mais uma televisão que dê 100, 90, 80 pontos de audiência.
M&M — Quanto vocês vão investir nessas ações com o mercado?
Fragali — Temos um orçamento para o comercial de aproximadamente R$ 20 milhões. Não estou colocando orçamento de propaganda, porque evidentemente temos aí um orçamento à parte que entra em marketing.
M&M — Comenta-se que os grandes anunciantes, na tentativa de ajudar a Manchete, teriam adiantado verbas para a emissora. Como está essa situação? Vocês estão renegociando com esses clientes?
Fragali — Inicialmente, ninguém adiantou nada para ninguém por favor ou para salvar algo. A última coisa que o anunciante faz é caridade. Aconteceu que a TV Manchete tinha contratos que prometiam determinado número de GRPs ou de audiência absoluta. Como não atingiu, ficou devendo coisas para alguns anun-ciantes. A TV Ômega não é sucessora da TV Manchete, é uma nova empresa que assumiu a concessão. A TV Manchete, a partir do dia 18 de maio, perdeu o serviço de radiodifusão. Então, a princípio, a TV Ômega não herda essas dívidas. Existe um buraco negro do que realmente foi dívida feita, do que não foi. O levantamento disso é um pouco impreciso, um pouco nebuloso, mas o nosso pessoal comercial tratará cada caso, especialmente dos grandes e sérios anun-ciantes e das grandes e sérias agências de propaganda. E é lógico que não assumiremos uma rede de televisão simplesmente passando uma imagem de que não conversamos, não discutimos.
M&M — É um volume grande de casos?
Fragali — Não, eu diria que há dois anos era, mas há um ano as pessoas começaram a saber pela imprensa que a partir do dia 18 de maio a TV Manchete teria a sua concessão cassada. Com isso, o anunciante realmente sério parou, foi isso que aconteceu.
M&M — Nos últimos tempos muitas afiliadas mudaram para outras emissoras. Como resolver isso?
Fragali — A Manchete é uma grande rede, tem cinco emissoras em praças formidáveis e 14 afiliadas hoje, e mais uma centena de retransmissoras e repetidoras. Só com o nosso investimento tecnológico, a cobertura da Manchete vai ter um aumento imediato. Vou dar um exemplo: a antena da TV Manchete em São Paulo, sob o ponto de vista de altura de torre e polarização, é uma das melhores e mais potentes do Brasil. Só que ela não funcionava porque há alguns anos o ar-condicionado do tal gerador pifou, ninguém consertou e as válvulas queimaram. A antena estava transmitindo com 30% de potência. Já estamos reequipando toda a planta de geradores e transmissores existentes, garantindo que a cobertura física aumente imediatamente em 60%. Em segundo lugar, é óbvio que no bojo dessa reestruturação inteira de organograma estamos trazendo gente muito forte em trabalho de rede. Só com a aquisição das concessões já tivemos diversos contatos e muitas empresas que estavam em processo de se desligar cancelaram esse processo e confirmaram os vínculos conosco. É o caso do Correio Braziliense, nossa afiliada de Brasília, que já tinha tomado a decisão de se desligar e automaticamente voltou atrás. Vamos fazer um projeto totalmente diferenciado para a praça de Brasília. Nas últimas duas semanas temos recebido aqui uma enxurrada de contatos de empresários e empresas insatisfeitas também com outros canais e que estão começando a ensaiar uma volta para a nossa rede. Isso não é processo rápido evidentemente. Acreditamos que em dois anos aproximadamente teremos uns 80% da antiga rede refeita.
M&M — O que pode significar para a Rede TV! abertura de mercado ao capital estrangeiro? Aliás, há uma suspeita de que esse nome não tem muita identidade de propósito, para que, quando a lei permitir, possa ser feita uma associação internacional e, aí sim, lançar um nome forte. Procede?
Fragali — Acho o nome Rede TV! excelente, foi fruto de uma pesquisa feita pela Fischer e quanto mais se ouvir, quanto mais ele for divulgado maciçamente na nossa televisão, mais simpático vai ficar. Além do que, há o ícone, o ponto de exclamação, que será colocado em tamanho gigante nos principais pontos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, nas nossas torres inteiras. Quanto ao capital estrangeiro, a última coisa que pensamos quando resolvemos entrar nessa briga foi a hipótese de aceitá-lo. Ninguém entra em um negócio desse tamanho contando com uma hipótese, ninguém. O nosso plano é que a Rede TV! seja uma emissora comercial, que dê uma audiência muito significativa, um faturamento muito significativo. Hoje em dia, temos que pensar em como arrumar o nosso quintal, como investir em nossa casa. Agora, raciocinando sob o ponto de vista macro, acho impossível andar na contramão da História. Acho inevitável o capital estrangeiro no ramo de radiodifusão, assim como acho inevitável em qualquer outro ramo. Acho inevitável também a participação brasileira em companhias internacionais, isso é óbvio, é uma via de duas mãos. Hoje, há produtoras daqui se estabelecendo lá fora, há novelas brasileiras sendo exportadas para o mundo inteiro e vice-versa.
M&M — O Amílcare costuma dizer que não importa aonde será a cabeça de rede. Ela pode estar em uma cidade e o pólo de produção em outra. Mas, afinal, onde será o pólo produtor da nova rede?
Fragali — Vai ser no Rio de Janeiro e em São Paulo. Vamos dizer que São Paulo tinha um papel muito pouco significativo na antiga Rede Manchete. Hoje terá um papel muito relevante. A transmissão de sinal a princípio será pelo Rio. Estamos com um grande projeto em Alphaville (Grande São Paulo), que deve ficar pronto no começo do próximo ano. Enquanto isso já fechamos com um outro complexo, onde agora estão sendo formatados os novos estúdios, também em Alphaville. A central comercial será na capital.
M&M — Algumas pessoas ligam o possível fim do Você Decide, da Rede Globo, com a nova programação da Rede TV!. Há alguma relação?
Fragali — Absurdo, absurdo total! Temos os melhores vínculos lá na Globo. Continuamos fazendo toda a parte interativa da TV Globo, como no Telecine. Pelo contrário, a TeleTV nunca trabalhou tanto com tantas emissoras como agora. A TeleTV é dirigida por técnicos do ramo, que têm um relacionamento eminentemente técnico com todas as televisões. Prestamos o melhor serviço, mais barato e mais rápido. Nunca escondemos que o nosso grupo estava interessado na compra das concessões, nunca fizemos nada às escondidas. São duas operações diferentes.
M&M — Qual a capacitação tecnológica que vocês têm para fazer essa interação com o telespectador na Rede TV!?
Fragali — A TeleTV é a maior plataforma de serviços de interatividade telefônica do mundo, com 15 mil linhas espalhadas em 20 cidades do Brasil, e uma capacidade de processamento de mais de 60 mil ligações telefônicas por minuto. Hoje, a TeleTV está ligada com todos os cartões de crédito e os principais bancos da rede nacional, permitindo que essa máquina seja transformada em uma imensa máquina de venda de coisas. Estamos vivendo a concretização da onda da interatividade. Estamos na iminência de uma virada tecnológica na qual cada consumidor, cada telespectador, poderá interagir, expressar sua opinião, comprar coisas. A máquina da TeleTV está pronta para isso.
M&M — A idéia é ter uma emissora interativa?
Fragali — Não compramos as concessões da Rede TV! por causa disso, mas é óbvio que queremos fazer também a TV mais interativa do Brasil, onde o telespectador vai não só poder comprar coisas como também participar de pesquisas de opinião, participar do jornalismo. Temos condições de fazer pesquisa de opinião em real time. Posso fazer o show de um artista e vender centenas de milhares de CDs dele no ato. O anunciante também terá condições de fazer um comercial interativo. Temos na nossa plataforma telefônica uma capacidade de teleatendimento infinita. Podemos colocar no comercial um telefone 0800 da TeleTV e oferecer isso como um serviço complementar ao anunciante. O consumidor buscará outras informações que naqueles 30 segundos foi possível passar, como preço, opções de pagamento, cores. Posso ainda descarregar a ligação dele em um concessionário, para que o produto seja vendido imediatamente ao telespectador.
M&M — Vocês já estão divulgando esses serviços para agências e anunciantes?
Fragali — A TeleTV fez em conjunto com a TV Globo um comercial interativo, da AlmapBBDO, da nova Parati. É como um Você Decide, onde existem várias alternativas: o telesrectador decide se quer saber mais sobre a carroceria ou sobre o estilo. Esse é o primeiro ensaio, mas nós podemos ter isso e mais, como ter um database com essas pessoas que efetivamente ligam para se informar.
M&M — Qual o faturamento do grupo?
Fragali — O grupo faturou R$ 400 milhões no ano passado. A TeleTV responde por 55%, 60% do grupo.
M&M — Isso muito por causa dos telessorteios? Foi graças ao telessorteio que a empresa pôde faturar tanto e adquirir uma rede de TV?
Fragali — Para nós o telessorteio deu mais problema do que lucro. Fizemos tudo absolutamente correto. Ser empresário no Brasil é um desafio fantástico. Imagine o que é montar um negócio que seus clientes lhe pedem, ter uma autorização emitida pelo Ministério da Justiça, e depois lhe dizerem que a operação é irregular. A TeleTV pagou rigorosamente tudo o que devia para cada uma das entidades filantrópicas até 1998, quando pararam os sorteios. Foram mais de R$ 38 milhões em um ano para entidades filantrópicas e fundos beneficiários dos sorteios. Fizemos em conjunto com o Silvio Santos um hospital em menos de 24 horas para a AACD. Tudo com autorização do Ministério da Justiça. Pergunto: se você faz um negócio com autorização do Ministério da Justiça e isso é ilegal, quero saber o que é legal no Brasil? Agora, para eu fazer um novo aplicativo aqui só com a presença do papa. Só se ele atestar que é legal e São Tomé autorizar.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 49102