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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Globo Data de Publicação: 06/09/1998 Autor/Repórter:
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TÃO À VONTADE QUANTO NUM BOTEQUIM
'Barraco MTV' faz sucesso entre os jovens que debatem temas polêmicos democraticamente
É uma confusão total. Gente de diferentes raças, credos, formações e — principalmente — opiniões se reúne para debater temas polêmicos. Todos querem falar ao mesmo tempo, o que é perfeitamente viável, já que os microfones estão abertos do inicio ao fim do programa. No "Barraco MTV", como em qualquer conversa de botequim, é assim: todo mundo discute e no final ninguém chega a qualquer conclusão. E é exatamente esta a idéia, segundo a apresentadora Astrid Fontenelle, encarregada de pôr um mínimo de ordem no caos.
— Este ano, nós até diminuímos o número de pessoas na mesa para que a confusão ficasse menos confusa. Mas o projeto sempre foi reproduzir as rodinhas que se formam em bares ou padarias, em que todo mundo fala e não se chega a lugar nenhum — conta Astrid.
ADOLESCENTE DESAFIOU O MINISTRO DA CULTURA
Brincando, brincando, o "Barraco" leva os adolescentes a refletir sobre temas como Aids, politica, drogas e sexo. A cada segunda-feira, dois ou três convidados e uma dezena de jovens se reúnem para defender ao vivo seus pontos de vista sobre um determinado assunto. O sucesso é tanto que o "Barraco" é um dos programas de maior longevidade na MTV: já está no ar há dois anos e meio.
— No "Barraco", não há uma posição central sendo defendida. Este é o único programa em que um jovem se senta ao lado do ministro da Cultura, como já ocorreu, e o questiona a respeito do provão. Um dos objetivos subliminares é criar consciência de cidadão na garotada. O "Barraco" é uma bagunça porque a democracia é ruidosa — diz Daniel Benevides, diretor da atração.
Para que o time do "Barraco" continue ganhando, cogita-se muitas hipóteses. Uma delas é transmiti-lo diretamente de várias praias do pais durante o verão, a exemplo do que já acontece com programas como o "Luau MTV".
Em 1999, pode ser que o programa passe a ter uma reportagem sobre o tema proposto, e que o público dê palpites por telefone, ao vivo. Este ano, a equipe tentou permitir a participação da pequena platéia que comparece ao estúdio, mas não deu muito certo.
— Num programa sobre irmãos, uma menina da arquibancada começou a espinafrar a irmã que estava na mesa: virou baixaria — conta Astrid. — Nem sei se o "Barraco" precisa de mudanças. O problema é que na MTV a gente sofre de excesso de criatividade.
A carismática apresentadora, e agora também produtora do "Barraco", é uma das principais responsáveis por seu sucesso entre os adolescentes. Astrid, de 37 anos, reconhece isso, mas frisa que o rigor na seleção dos convidados também é fundamental:
— Gosto de ouvir os jovens; respeito sua opinião. Além disso a equipe faz questão de procurar pessoas que tenham algo a dizer. A produção sempre faz uma pré-entrevista com os possíveis convidados.
As próximas edições do "Barraco" vão dar o que falar. Até as eleições de 3 de outubro, o assunto será politica. Inspirado na declaração do presidente Fernando Henrique, o tema desta semana é: Vida de rico é chata?
BREVE HISTÓRICO DA CONFUSÃO
EVANGÉLICOS: Uma das primeiras edições do "Barraco" tratou do homossexualismo. Como o assunto rendeu, a equipe decidiu fazer um novo programa com o tema e convidou os presentes a voltar. O pastor Ricardo Gondim estava tão chocado com as opiniões dos outros participantes que respondeu ao convite com um sonoro não. Desde então, a produção corta um dobrado quando quer levar um evangélico ao programa.
SOPAPOS: O tema era ciúme e Adriane Galisteu, uma das convidadas, afirmou que não padecia deste mal. Uma jovem implicou com a declaração e passou a alfinetar Adriane. A discussão continuou após o fim do programa e quase terminou em sopapos.
PAQUERA: Freqüentemente o pessoal da produção faz papel de Cupido. É comum os telespectadores ligarem para pedir o telefone de alguém que esteve no "Barraco". A produção contacta a pessoa em questão, e, se ela autorizar, dá seu número ao`interessado.
CAMISINHA: Certa vez, Teresinha Pinto, representante de uma ONG, sacou de uma banana para mostrar como se usa o preservativo. Ao vivo, pôs a camisinha na banana com a boca.
DROGAS: Num debate sobre o tema, um pai de família e Marcelo D2, do Planet Hemp, defendiam posições radicalmente opostas. A conversa se estendeu tanto que eles foram terminá-la numa padaria próxima à MTV.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 49931