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Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 08/04/1995
Autor/Repórter: Omar de Souza

TODO O PODER AO ROMANTISMO

SBT mantém o filão das novelas de época com a produção de 'Sangue do meu Sangue'

Enquanto dezenas de teóricos discutem o que precisa mudar nas novelas: brasileiras, o SBT continua investindo na velha e confiável mistura de ação e romance, o feijão-com-arroz da teledramaturgia, devidamente enriquecido com os avanços nas técnicas de produção. Sangue do meu sangue, programada pela emissora para substituir As pupilas do senhor reitor em junho, é a nova aposta na estrutura clássica de folhetim. Mas Rita Buzzar, responsável junto com o ator Paulo Figueiredo pela versão da novela escrita por Vicente Sesso há 25 anos, está dando à história outros contornos, com a valorização de tramas secundárias e ritmo mais dinâmico.

Na primeira vez que foi ao ar, em 69, exibida pela TV Excelsior, Sangue do meu sangue trazia muitas marcas da escola ortodoxa que norteou a produção de novelas na década de 60. Ainda assim, o dramalhão de época que tinha Francisco Cuoco e Tônia Carrero nos principais papéis fez sucesso. O fio condutor da história, ambientada no Brasil do Segundo Reinado, é a luta de Lúcio, filho de Carlos (os dois papéis interpretados na época por Francisco Cuoco), para desvendar os mistérios que envolvem o passado de sua família, ao mesmo tempo em que defende a abolição da escravatura e descobre o amor por Pola Renon (Tônia) A direção coube a Sérgio Britto.

A primeira providência dos autores para atualizar Sangue de meu sangue, com inicio das gravações previsto para maio, foi a redução do número de capítulos. "O original de 69 tinha 240 capítulos de 25 a 30 minutos, com poucas e longas cenas", conta Rita. "A nova versão terá 180, com capítulos mais longos e dinâmicos. As mudanças mais importantes-acontecem na primeira fase, que se passa em 1872. Ela foi reduzida de 63 para 24 capítulos e, com isso, a trama foi acelerada.

O público mudou, está preparado para programas mais rápidos."

Dois personagens beneficiados com as mexidos na trama foram Salomé (Jussara Freire), uma prostituta, e Rebeca (Jandira Martini), tia do vilão Clóvis (Osmar Prado). "São papéis tão interessantes que vão entrar na história desde o início, ao contrário da primeira versão, toda centrada nos protagonistas. Desta vez as subtramas ganharão força. É como a adaptação de um livro: deve ser feita com respeito, mas há necessidade de se criar." Jaime Periard já foi escalado para viver Carlos.

Na segunda fase de Sangue, ambientada em 1883, entram Lúcio (Tarcísio Filho) e Pola (Bia Seidl). A partir daí ficam mais evidentes e importantes para a trama os fatos históricos do período, como a militância de José do Patrocínio e a trajetória da princesa Isabel. "Ela sabia que libertar os escravos significaria o fim do Império. É um drama pessoal que funciona bem para a novela", diz Rita. Ela e Paulo, que contam com a colaboração de Ercila Pedroso na redação dos capítulos, também recebem o importante auxílio da historiadora Ana Luiza Martins, responsável pelas pesquisas.

A autora espera que Sangue do meu sangue consiga estabelecer a mesma identificação com o publico obtida por Éramos seis. Para ela, as pupilas do senhor reitor pode estar perdendo justamente neste quesito, o da empatia.

"Não pude acompanhar a novela porque estava escrevendo o romance Maralto, que será lançado em maio. Mas acredito que o fato de ser ambientada em Portugal prejudica a audiência, já que a história e o elenco são ótimos", analisa Rita vem trabalhando paralelamente na adaptação do livro Olga, de Fernando Morais, para uma minissérie dirigida por Sérgio Toledo para uma produtora independente. A Bandeirantes e o próprio SBT já demonstraram interesse no projeto, mas a Globo quer adquirir os direitos da obra.

IBOPE MOSTRA A REAÇÃO DE "AS PUPILAS"

História interessante, elenco talentoso, boa direção, produção cuidadosa. Considerando que As papilas do senhor reitor tem tudo que um folhetim precisa para decolar, é difícil entender os motivos pelos quais a novela do SBT ainda não alcançou os mesmos bons índices de Eramos seis. Pode ser uma questão de tempo. Chico de Assis, supervisor da equipe de redatores de Pupilas, acha que a audiência tende a crescer.

Os números mais recentes do Ibope derramaram ânimo sobre os estúdios da Vila Guilherme. Pupilas abriu o mês de março com média semanal de 7,2 pontos no primeiro horário (19h45) e 7,5 no segundo (21h40). Na semana passada, os índices chegaram a 12,2 e 8,7 pontos. São números que indicam duas verdades: o impacto da atual novela foi menor que a anterior. Por outro lado, demonstra o poder de recuperação do núcleo de dramaturgia, estimulando a continuidade do projeto.

"Estamos fazendo novelas para um público mais conservador, romântico, que gosta de tramas mais densas, como as que eram realizadas na extinta TV Tupi", explica Chico de Assis que considera que esta faixa pode não ser tão grande, mas é fiel "A Globo deixou de produzir histórias de época, privilegiando o público jovem e consumidor".

Chico lembra que dois incidentes causaram relativo prejuízo à novela. Num deles, o protagonista Eduardo Moscovis teve que se afastar por vários dias das gravações por problemas de saúde. No outro, o autor Bosco Brasil, que fazia dobradinha com Ismael Fernandes, foi substituído por Analy Pinto, Aziz Bajur e Zeno Wilte.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 50963