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Nova Consulta

Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 02/01/1983
Autor/Repórter: Maria Helena Dutra

CONTINUANDO A REVER

Para Holmes. Em modesto quarto lugar de audiência, com um público menor do que o PT, a Bandeirantes viveu em 82 mais um ano difícil e complicado de entender. Um simples espectador tem que ser muito detetive para decifrar uma estação que no seu quinto ano de vida no Rio de Janeiro ainda não optou por qualquer linha artística, cultural, mercadológica ou comercial. Um enigma com satélite que brilha em jornalismo apesar das máquinas velhas e equipe reduzida. Que desativou sua filial carioca por economia mas gasta milhões em programas que duram menos que rosas por se mostrarem inviáveis já nas estréias. Chegando à incrível façanha de cancelar uma novela depois de quatro semanas no ar sem nenhum aviso ao seu único assistente. Coisa que a Tupi só fez em irrecuperável processo de falência.

Ao contrário da Bandeirantes, a Record se definiu logo em seu primeiro ano de vida. Da pior maneira possível, mas fez rapidamente sua opção em ser apenas um cinema-poeira. Emplacou um terceiro lugar no IBOPE porque quem quer desenhos violentos e filmes descoloridos por tantas exibições já sabe onde achar. Seus poucos brilhos, Noites Cariocas e torneios de vôlei, foram produções independentes, às quais somente emprestou o projetor. O canal 11 ficou fume no segundo lugar com muito auditório, humorismo e apelações ao grotesco. Mas teve o mérito de este ano empregar bem mais gente do que antes. Nos tempos atuais, merece aplauso.

Depois da geral, alguns destaques particulares. A TVE acabou com seus programas nos quais se discutiam idéias (Sábado Forte, Um Nome na História, Interiores, Saltimbanco, Delas) e ficou muito pobre. O esforço, apesar da indigência de recursos, de Os Astros, Os Médicos, Sala Funarte, Forró, Roda de Samba tiveram seu relevo no desanimado 82 da estação.

A Era da Incerteza, seriado sobre a história da economia realizado pela BBC com Kenneth Galbraith, foi seu maior brilho. Como também persistir com Maestro que continua a ser o único tempo da televisão carioca para música erudita feita no Brasil.

Na diluviana Globo tem de tudo. Na parte musical, destaque positivo para a homenagem a Elis Regina e o excelente Roberto Carlos de fim de ano. De negativo, o MPB-82 de baixa extração, o incompreensível estrelato de Marília Gabriela, o mau uso dos talentos de Elba Ramalho e Alceu Valença e a irresponsabilidade, com vítimas, de fazer show gratuito e com Simone numa Quinta da Boa Vista sem policiamento. Nas séries importadas, só bobagens. Desde a insistência com Dallas, que por aqui não pegou mesmo, até o abandono do complicado Cosmos do narcisista Carl Sagan. No esporte, só azarou. Um Karma que teve a tal da Copa do Mundo apenas ufanista, Fórmula Um desanimada, basquete chocho e só as derrotas do vôlei feminino. Madeira.

Infelizmente o jornalismo não foi melhor. Acabou Globo Revista, Sem Censura, Globo Repórter, este quando encontrava sua melhor fase. Ficando O Povo e o Presidente, apenas uma fala imperial, e o fatídico Show das Eleições, que foi o pior momento da estação em 17 anos de vida. Em variedades os destaques positivos são a vitalidade popular de Chacrinha, demonstrada na volta à estação e a permanência corajosa de Marta Suplica em TV Mulher. Nas novelas, especialidade que não tem mesmo rivais, teve duas bobagens às 10h que foram Terras do Sem Fim e Homem Proibido, mas agora está com a simpática Paraíso no ar. Outra vez com azar, não teve um real grande sucesso as oito. Brilhante, Sétimo Sentido e Sol de Verão foram apenas um alinhamento de equívocos. Por isso o mais feliz ficou mesmo para as 19 horas. Com a melhor produção do ano, Jogo da Vida, e as razoáveis Elas por Elas e Final Feliz.

No humor o grande destaque foi o mitológico ano de Chico Anysio. Jô Soares não foi feliz tendo apenas se salvado o "vai-soprar-pra-mim" que é histórico. O Estúdio A...gildo e o Balança não fizeram rir. Nas séries os enormes destaques ficam com O Bem Amado e Lampião e Maria Bonita.

Glórias da estação. Os outros foram bem menos felizes, assim como o Caso Verdade e o Sítio do Picapau Amarelo, mas nada justifica a censura de Bandidos da Falange e toda a crise provocada por mais este ato de obscuritismo.

A Bandeirantes tirou nada menos de 12 programas do ar este ano, sendo que oito estreados em 82. Para matar Watson. Jogou o Canal Livre para a meia-noite, mas mesmo assim este programa teve altos. Com Plínio Marcos, Paulo Freire, Jorge Semprum, Zélia Amado e, principalmente, Teotônio Vilela. O momento mais emocionante da televisão este ano. Em novela matou Os Imigrantes de cansaço, a Renúncia de Chico Xavier no,, nascedouro, fez da Filha do Silêncio a sua mais hilária produção. No ramo, apenas Ninho da Serpente fez bonito. Para arrumar também um Presidente, insistiu um pouco com Jânio Quadros. Mas nunca teve povo assistindo e já dançou. Crítica e Autocrítica como Ferreira Neto tiveram grandes momentos, os de maior brilho foram eleitorais. Mas os jornais diários continuam muito sem recursos. No final do ano a competência de Hebe Camargo tem salvo seus domingos, mas o Boa-Noite, Brasil, apesar dos prêmios, não consegue o mesmo milagre durante a semana.

Produções independentes salvaram a Record do carvão queimado. Barra Pesada, enquanto durou, Noites Cariocas, mais no início, quando os dois apresentadores atuavam juntos, do que agora separados, e os vários torneios de vôlei estão entre os melhores trabalhos do ano. A TVS, por incrível que pareça, brilhou na política. Com o debate de candidatos paulistas no Ferreira Netto, quando ainda trabalhava lá, e com os cariocas no Povo na TV. Fora disso ficaram apenas insuportáveis novelas mexicanas, um adoidado festival de carnaval, divertidíssimos concursos de misses e a meteórica passagem, no pior programa do ano, de Carlos Imperial por aquelas paragens. No mais, só humor e idéias antigas.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 5236