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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Jornal do Brasil Data de Publicação: 05/08/1995 Autor/Repórter: Marili Ribeiro
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VILÃO BOTA A NOVELA NO BOLSO
Osmar Prado se destaca no papel do malvado Clóvis
Irrequieto. Polêmico. Foco de atenções desde a escola primária — ao ser escolhido para entregar flores à professora, fez uma elegante mesura e arrancou aplausos da platéia. Ali, intuiu que aquilo seria rotina em sua vida, verdade que o tempo continua confirmando. Vestindo o canalha Clóvis Camargo na novela Sangue do meu sangue, do SBT, Osmar Prado precisou de apenas alguns capítulos para despejar seu talento e se destacar na trama. Sua elogiável atuação é o tempero que vem fazendo a diferença no dramalhão de época escrito por Vicente Sesso.
Há quem diga que o poder de sedução é a maior arma dos vilões da dramaturgia, e a ambição, seu ponto fraco. Se assim for, o Clóvis Camargo que aparece diariamente na tela do SBT pode ser considerado um exemplo típico de bandido de folhetim. Para compô-lo, o ator buscou recursos já experimentados em outros trabalhos, especialmente na premiada peca Uma rosa para Hitler, encenada no final de 1993. "Ele tem os traços da classe dominante, ávida por sucesso. Não mede conseqüências para alimentar sua sede de poder. Mistura a ambição de Hitler com o estilo cerebral e maquiavélico de seu propagandista, Goebels", analisa. Mesmo incorporando um mau-caráter, Osmar confessa querer seduzir o publico. "Torço para que amem o Clóvis e entendam suas contrações. O objetivo de todo artista é ser um guerrilheiro cultural e instigar as pessoas", diz o ator, que atualmente também se desdobra em 18 diferentes papéis na fábula teatral O fabuloso obsceno, de Dario Fo, em cartaz no Teatro Itália, em São Paulo.
Ao contrário do que se divulgou, o vilão não é o primeiro protagonista de Osmar. O artista de 48 anos já experimentou essa glória em pelo menos duas novelas, Helena e Bicho do mato, ambas na Globo. Ele ri quando lembra a performance infantil mencionada na abertura, mas reconhece que seu lugar sempre foi sob os holofotes. Um vasto currículo, com 40 novelas e 24 peças teatrais, confirma sua paixão incontrolável por criar tipos. Alguns inesquecíveis, como o matuto Tião Galinha, vivido em 1993, na Globo. "Foi um dos mais envolventes que desenvolvi. Ele era porta-voz de alguns valores e questionamentos que, infelizmente, são tabus no Brasil, como a reforma agrária".
Polido, mas também politizado, Osmar Prado se diz ligado afetivamente ao PT. Defende a descriminação da maconha e acha hipocrisia falar abertamente sobre cigarro e álcool, segundo ele, igualmente prejudiciais. "As pessoas devem ter o direito de decidir o que e melhor, desde que tenham consciência do estrago que podem provocar ao seu organismo", opina. O discurso é compatível com a atitude. Recentemente, uma de suas três filhas. Tainá, de 16 anos, começou a fumar. Ele conversou abertamente e ponderou que se ela quiser ter pulmões para enfrentar um palco, "é bom evitar comprometê-los desde agora''.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 52664