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PUC-Rio
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Jornal/Revista: VEJA Data de Publicação: 02/10/1985 Autor/Repórter:
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TROCA DE GUARDA
Jornal do Brasil compra uma parte da Record
O empresário e animador de auditório Sílvio Santos despediu-se na semana passada da TV Record e abriu as portas da rede para a entrada do Jornal do Brasil e do presidente da FIFA, João Havelange. Na tarde de quinta-feira passada, as três partes assinaram em São Paulo um acordo pelo qual as ações da Rádio e Televisão Record em mãos de Sílvio Santos mudarão, em breve, de dono. Por 20 milhões de dólares, elas serão divididas entre o jornal carioca e Havelange, um dos donos da empresa de ônibus Cometa. O negócio, para cuja concretização resta apenas a bênção formal do Ministério das Comunicações, coloca o Jornal do Brasil e João Havelange na posse de 50% da TV Record de São Paulo, 80% da TV Record do Rio de Janeiro e metade das emissoras da rede em Franca e São José do Rio Preto, no interior paulista. Os novos sócios terão também 50% das rádios Record AM e FM de São Paulo. A outra fatia continuará nas mãos da família Machado de Carvalho, fundadora da rede.
As negociações iniciaram-se em abril passado, tocadas por Sílvio Santos e pelo vice-presidente executivo da Jornal do Brasil S.A., José Antônio do Nascimento Brito, de 33 anos, destacado por seu pai, Manoel Francisco, presidente da empresa, para conduzir a operação. Há cerca de um mês, Sílvio Santos comunicou formalmente ao ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, o avanço dos entendimentos entre as partes. Na mesma ocasião, o jornal solicitou os préstimos de seu amigo Emilio Azcarraga, dono da rede mexicana Televisa, para aferir a situação financeira da Record.
Azcarraga remeteu ao Brasil dois graduados funcionários largamente familiarizados com o dia-a-dia de uma emissora de 'televisão, e ambos promoveram uma severa auditoria na Record. O diagnóstico emitido por eles animou o Jornal do Brasil a tocar para a frente as negociações.
TOQUE DE CLASSE - A presença de Havelange no negócio surpreendeu o próprio vendedor. "Só fiquei sabendo que ele estava no meio um dia antes da assinatura do acordo", diz Sílvio Santos. Os compradores estão francamente satisfeitos com o desfecho do caso. "Botamos os pés num negócio que nos dará outras condições para enfrentarmos a brutal concorrência da Rede Globo". diz José Antônio do Nascimento Brito. Controlada pelo empresário Roberto Marinho, a TV Globo faz parte do grupo que edita o jornal O Globo, rival do Jornal do Brasil. Munido de uma emissora de televisão, Nascimento Brito acredita que agora travará com o concorrente uma luta menos desigual.
Os novos donos não sabem ainda quais rumos imprimirão à Record, mas adiantam que virtualmente nada será como antes - pelo menos no Rio, onde serão majoritários e não dependerão da anuência da família Machado de Carvalho. "Uma coisa é certa", diz Nascimento Brito. "Nosso público não será as classes D e E, como acontece atualmente." Com um toque de refinamento na programação da emissora, que foi na década de 60 a mais influente do país, Nascimento Brito acredita ser possível rapidamente elevar seus níveis de audiência. No momento, a TV Record de São Paulo exibe uma média de 9 pontos de audiência, o triplo do índice médio registrado pela emissora no Rio de Janeiro, obtido basicamente com filmes de faroeste. Nunca teve seu ponto forte no jornalismo, o que agora deve mudar.
O namoro do Jornal do Brasil com a televisão não é propriamente novo e em outras ocasiões o casamento quase foi consumado. No governo Ernesto Geisel, o jornal foi contemplado com uma concessão, mas uma semana antes de expirar o prazo para colocar no ar a emissora, em setembro de 1978, decidiu devolvê-la. Chegara à conclusão de que não tivera tempo suficiente para armar o empreendimento. "Não estávamos tão preparados naquela época, como estamos agora, para enfrentar o poder da Globo", diz Nascimento Brito. Ele está convencido de que o negócio foi bom para todos. Para Sílvio Santos, é o fim de quatro anos de conflito com a legislação -dono da SBT, a segunda colocada em audiência, ele, pela lei, não poderia ser sócio de outra emissora. Para o Jornal do Brasil, é a materialização do velho sonho de possuir uma rede de televisão - e numa região especial. "Alcançamos, com a Record, o filé-mignon do mercado consumidor brasileiro, Rio de Janeiro e São Paulo", alegra-se Nascimento Brito.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 5897