PUC-Rio

Voltar

Nova Consulta

Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 08/02/2001
Autor/Repórter: Amelia Gonzalez

REALISMO FANTÁSTICO E SONORIDADE

A sonoridade foi uma das marcas mais felizes do primeiro capítulo de “Porto dos Milagres”, novela das 20h que estreou anteontem na Rede Globo cravando 50 pontos de pico e 47 de média no ibope. O som de uma única castanhola deu um toque especialíssimo às imagens dos primeiros minutos da trama, feitas na Espanha. E, embalando a viagem do casal de golpistas Adma (Cassia Kiss) e Félix (Antônio Fagundes), a percussão baiana se mesclou muito bem à belíssima (embora meio batida) fotografia de um pescador jogando sua rede no mar para mostrar que a dupla chegava ao Brasil.No mais, “Porto dos Milagres” esbanja também um elenco dos melhores. Foi impagável, por exemplo, a entrada de Arlete Salles (Augusta Eugênia) na trama. Com sua calorenta estola de pele, lançou um olhar de nojo em volta da tropicalíssima cidade e disparou em segundos algumas frases que podem fazer dela mais um dos personagens inesquecíveis da teledramaturgia nacional:

“Filho é como urticária. Qualquer uma tem.”

“Quem não me conhece não existe.”De novo “nos trinques”, a dupla de autores Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares mostra sua marca, demonstrando a intimidade de sempre com as expressões regionais do Nordeste brasileiro. E crava outro gol quando dá de presente ao público uma dose dupla de Antônio Fagundes. O ator, que interpreta os irmãos gêmeos Bartolomeu e Félix, mostra que a maturidade só tem lhe acrescentado talento. Não deu para desgrudar os olhos da tela quando Bartolomeu viu Félix, o irmão que o deixou na pior há dez anos.O realismo fantástico, marca registrada de Aguinaldo e Ricardo, no entanto, pode deixar frustrado o público que acaba de reverenciar com altos índices de audiência a urbanidade realista de Manoel Carlos em “Laços de família”. Mas, pelo que se viu no primeiro capítulo de “Porto dos Milagres”, a ordem agora é sonhar acordado e imaginar que é possível, sim, no reino da dramaturgia, um casal de brasileiros caçado pela polícia deixar um país estrangeiro de navio, com ajuda de cartões de crédito roubados. Odoiá, rainha do mar!Elenco e cenários não deixam a desejar

Os efeitos especiais ainda permearam a transa de Maurício Mattar (Frederico), muito bem no papel do humilde pescador, com Cristiana Oliveira (Eulália ) num pequeno barco à mercê de uma tempestade. Com aquele casal estará o início do novelo da trama, que realmente não esconde a reverência ao escritor Jorge Amado, autor de “Mar morto”, romance que inspirou os autores.

O discurso da cigana (participação especial da atriz portuguesa Eunice Munhoz), que prevê o futuro de Félix, deixa claro que “Porto dos Milagres” não poupará o público de muito romantismo, ação e drama. É esperar para ver, quando começar a segunda fase daqui a sete capítulos, o que Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares ainda reservam para fazer frente ao estrondoso sucesso que estão sucedendo.

Voltar

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 67258