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Jornal/Revista: Jornal do Brasil
Data de Publicação: 25/09/2001
Autor/Repórter: Tomás Absalão

PERSONAGEM 'DO MAL' INSPIRADO EM FH

Fim de novela leva ao ar programa eleitoral em que vilão lembra Collor e FH enquanto mocinho é de partido trabalhista

Qualquer semelhança pode não ser mera coincidência. Produzida com o objetivo de promover o fim da novela Porto dos Milagres, que termina na sexta-feira, a ''propaganda eleitoral'' que está sendo exibida há uma semana na grade de programação da Rede Globo chama atenção pelas referências políticas que lembram o presidente Fernando Henrique Cardoso e seu antecessor Fernando Collor de Mello.

Candidato a governador da Bahia pelo fictício Partido da Vanguarda Democrática (PVD), Félix Guerrero, o vilão da trama vivido por Antonio Fagundes, faz sua campanha eleitoral mostra os cinco dedos da mão - símbolo de campanha de Fernando Henrique. O discurso de Félix Guerreiro usa ainda a saudação cunhada por Collor em 1989 -''Minha gente- e repete o apelo ''Não Me deixem só'', feito pelo ex-presidente aos eleitores. Mas a maneira de falar de FG, segundo um dos autores da novela Ricardo Linhares, está mais para FH. ''A eloqüência é do Collor, o populismo de Fernando Henrique. O Fagundes pegou bem a maneira de falar de FH'', acredita Linhares.

Linhares explica que o objetivo não era copiar um político em especial, mas todos. ''Usamos na novela o que nos mostram os jornais. Por isso, o personagem tem um pouco de Garotinho, quando usa a bíblia; e também de ACM , com o escândalo das conversas gravadas.''

Carapuça- No entanto, deputados do PSDB estão vestindo a carapuça e reclamam que o programa prejudica a imagem do governo. Enquanto Félix, que faz parte da situação, passa a imagem de uma pessoa inescrupulosa, Guma, o adversário de Félix, o mocinho da novela vivido por Marcos Palmeira, estaria associado ao PT. A começar pelo nome fictício da legenda: Partido das Causas Trabalhistas.

''Não há dúvida de que há uma indução para que o eleitor perceba que o Guma representa o que seria a oposição e o candidato a governador (Fagundes), o governo. Até com o mesmo impacto vocal do nome Guma parece com Lula. Isso vai para o inconsciente do eleitor e acaba sendo nocivo'', acusa o vice-líder do PSDB na Câmara, deputado Nárcio Rodrigues.

Ricardo Linhares reconhece a semelhança. ''O Guma pode ter uma semelhança com o PT. Mas não acredito que isso influencie'', diz ele, que jura que não ser petista. ''Não tenho um partido preferido. Nem sei se o PT seria a solução para o país''.

Outro deputado tucano, o maranhense Sebastião Madeira, engrossa o coro dos descontentes. ''O horário eleitoral passa uma mensagem subliminar. O lado do governo é o corrupto'', diz Madeira, que não assiste a novela e só anteontem viu o spot com o programa eleitoral simulado. ''Repare, até o nome do partido, PCT, lembra o PT. Então, a Globo quer que o Lula seja presidente?'', pergunta.

Diretor da Central Globo de Comunicação e um dos idealizadores da campanha fictícia, Luís Erlanger disse que a idéia da emissora foi chamar atenção para o fim da trama. ''Esse tipo de ligação (associar as chamadas com as eleições de 2002) só quem fez, pelo visto foi o JB. Até porque, espontaneamente, ninguém se expôs descontentado'', disse ele.

Psicanalista vê prejuízo







O psicanalista Joel Birman acredita que o público pode fazer uma relação entre Félix Guerrero com o presidente Fernando Henrique. ''Usar o símbolo de campanha de Fernando Henrique (os cinco dedos de uma mão) de uma certa maneira passa a mensagem ao público de que sua imagem está sendo projetado sobre os escândalos políticos'', diz o psicanalista. Mas o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, não acredita que uma ilação desse tipo possa durar até as eleições de 2002. ''As eleições estão distantes'', diz ele.

Birman, que também é professor na Uerj e na UFRJ, destaca a atitude de a emissora trazer à tona o debate. ''Suponho que a novela esteja dando corpo a este tipo de material por conta da opinião pública. É uma opção política da emissora, ao dar voz a insatisfação das pessoas, e por outro lado, uma estratégia de mercado televisivo, na medida que o público que assiste a novela se identifica ao ver suas opiniões materializadas no embate desses personagens'', conclui.

O diretor da novela, Marcos Paulo, minimiza a polêmica. ''Tudo não passa de uma sátira bem-humorada da política. A intenção era a de provocar um ruído como de fato aconteceu'', disse.

As alusões à política real não ficam restritas a campanha eleitoral. Chantageado, o presidente do PVD, senador Vitório Viana, interpretado por Lima Duarte, se afasta da presidência do partido para não ver descoberto a fraude no ''pererecário'' da sua ex-mulher. Na vida real, foi descoberta uma fraude no ranário da mulher do senador Jader Barbalho.

PSICANLISTA VÊ PREJUÍZO

O psicanalista Joel Birman acredita que o público pode fazer uma relação entre Félix Guerrero com o presidente Fernando Henrique. ''Usar o símbolo de campanha de Fernando Henrique (os cinco dedos de uma mão) de uma certa maneira passa a mensagem ao público de que sua imagem está sendo projetado sobre os escândalos políticos'', diz o psicanalista. Mas o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, não acredita que uma ilação desse tipo possa durar até as eleições de 2002. ''As eleições estão distantes'', diz ele.

Birman, que também é professor na Uerj e na UFRJ, destaca a atitude de a emissora trazer à tona o debate. ''Suponho que a novela esteja dando corpo a este tipo de material por conta da opinião pública. É uma opção política da emissora, ao dar voz a insatisfação das pessoas, e por outro lado, uma estratégia de mercado televisivo, na medida que o público que assiste a novela se identifica ao ver suas opiniões materializadas no embate desses personagens'', conclui.

O diretor da novela, Marcos Paulo, minimiza a polêmica. ''Tudo não passa de uma sátira bem-humorada da política. A intenção era a de provocar um ruído como de fato aconteceu'', disse.

As alusões à política real não ficam restritas a campanha eleitoral. Chantageado, o presidente do PVD, senador Vitório Viana, interpretado por Lima Duarte, se afasta da presidência do partido para não ver descoberto a fraude no ''pererecário'' da sua ex-mulher. Na vida real, foi descoberta uma fraude no ranário da mulher do senador Jader Barbalho.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 72605