JÓIA DAS MIL E UMA NOITES PROVOCA FRENESI CONSUMISTA
Enquanto as afegãs mostram o rosto para o mundo, as cariocas estão descobrindo os adornos das mulheres árabes. Tudo graças à personagem Jade, vivida pela atriz Giovanna Antonelli na novela "O clone", que exibe nas mãos uma pulseira típica que liga o punho a um dedo por uma fina corrente enfeitada com pedras coloridas. A iswarah (nome da jóia em árabe) está em todos os cantos da cidade: da Saara, no Centro do Rio - onde dezenas de comerciantes anunciam em alto e bom som "a pulseirinha da Jade", vendida a partir de R$ 3 - às lojas do exclusivo joalheiro Antonio Bernardo, fã da cultura oriental, que fez sua releitura do mimo e o tem vendido para socialites. A jóia, batizada por ele de Pulseira Yasmin, tem turquesas, safiras e brilhantes. O preço? R$ 1.044,00.
- Com a novela, a Yasmin, que vendemos desde 1998, passou a ser mais procurada - diz o gerente da filial da Gávea, Gianfranco Vergari.
Peças são usadas como objeto de sedução - Quem também está comemorando o sucesso do acessório é a empresária Aline Schiper, dona do ateliê de mesmo nome, em Ipanema. Desde que lançou uma coleção marroquina de jóias de ouro e pedras brasileiras - na mesma época em que "O clone" estreou - ela já vendeu 20 peças. Os preços vão de R$ 760 a R$ 1.290. É Aline quem faz as pulseiras que a personagem de Letícia Sabatella, Latifa, usa na novela.
Apesar de as cariocas usarem o objeto por vaidade, no mundo oriental ele tem outros significados. A arquiteta Ana Paula Qubain, casada com um jordaniano, explica que as pulseiras eram usadas pela principal dançarina dos haréns para chamar a atenção dos sheiks . E eram geralmente acompanhadas da kholkhal (pulseira para o tornozelo).
- Hoje em dia as mulheres muçulmanas usam essas jóias em festas e casamentos. Ambas são identificadas como objetos de sedução - explica.
A professora de dança do ventre Jeana Kamil, descendente de libaneses, diz que a bijuteria é chamada de mãozinha, nas festas orientais:
- Hoje uso até para ir ao cinema. Estamos sendo invadidos pela cultura árabe.
Reduto de árabes, a região da Saara é prova disso. Não são poucos os comerciantes que estão vendendo a pulseirinha, nas ruas da Alfândega e Senhor dos Passos. As lojas da família Chilazi (uma delas de nome Jade, por pura coincidência) têm modelos com preços que variam de R$ 3 a R$ 20. As bijuterias são feitas pelo artesão Sílvio Pinheiro. Ele não perde um capítulo de "O clone", sempre atento aos modelos usados pelas personagens da novela, que não hesita em copiar.
A MODA QUE SAI DA TELINHA
Novela sempre inspirou moda. Acessórios, cortes de cabelo, bijuterias, esmaltes, roupas - tudo que pinta na telinha pode ser (e é!) copiado pelo público. Nos anos 70, a ex-presidiária Júlia Matos, vivida por Sônia Braga em "Dancin' Days", fez a mulherada correr atrás das meias de lurex coloridíssimas que ela usava. De lá para cá, teve a franja da Solange (Lídia Brondi) em "Vale tudo", o crucifixo da Mariana (Adriana Esteves) em "Renascer" e a blusa que deixava à mostra os ombros da Babalu (Letícia Spiller) em "Quatro por quatro". Recentemente, o tererê da Bionda (Mariana Ximenes) em "Uga uga" fez sucesso entre as adolescentes, que não pensavam duas vezes antes de adornar os cabelos com contas multicoloridas.
Nesse contexto, a pulseirinha da Jade é apenas o xodó da vez entre as ávidas copiadoras de estilo.
- Acho a pulseira linda, mas ela é muito mais a cara da Jade que da Giovanna. É sempre ótimo dar vida a um personagem que cria tanta identidade com o público como esse - diz a atriz Giovanna Antonelli.
Giovanna pode ser considerada uma veterana na arte de inspirar modismos. Os brincos da prostituta Capitu, sua personagem na novela "Laços de família", foram copiados em todo o Brasil. E acabaram, quem diria, na feira hippie de Ipanema. O esmalte escuro que realçava suas unhas também virou referência fashion para milhares de Capitus, Júlias, Solanges, Babalus e Jades do lado de cá da telinha.
