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PUC-Rio
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Jornal/Revista: O Globo Data de Publicação: 30/06/2002 Autor/Repórter: Lilian Fernandes
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COMO NASCE UMA NOVELA
De rotina Gabriela Miranda não pode se queixar. Pesquisadora de Manoel Carlos há cinco anos, a moça está voltando hoje de Nova York, onde esteve 15 dias em intermináveis reuniões com o escritor, que passa uma temporada nos Estados Unidos. Os dois definiram como será a próxima novela das 20h da Rede Globo, que deverá estrear no horário nobre em março de 2003. Gabriela desembarca com uma lista de temas a pesquisar e não quer perder tempo. Até porque alguns deles vão dar o que falar: Manoel Carlos vai abordar a bissexualidade feminina e a união legal entre homossexuais.
- A pesquisa para uma novela começa quase um ano antes de ela ir ao ar - diz Gabriela, que, desta vez, terá menos tempo para trabalhar. - É preciso contactar muita gente e ter cara-de-pau para obter as informações corretas dentro do prazo necessário, o que acaba dando muita cultura geral. O melhor é que nunca sei qual será o próximo assunto.
Não sabe mesmo. A pesquisadora está sempre fuçando jornais e revistas, navegando na internet, entrevistando gente, conhecendo lugares. Para "Laços de família", por exemplo, a mais recente novela de Manoel Carlos, ela pesquisou sobre leucemia e impotência, descobriu como funcionavam um haras e uma clínica de estética e passou duas semanas ao lado de Flávio Silvino, para saber como era a vida de alguém que fica com seqüelas após um acidente grave, caso do ator e de seu personagem na história.
Formada em publicidade, a jovem de 28 anos começou a trabalhar com Manoel Carlos pouco antes de concluir o curso. Mesmo quando o escritor não tem obras no ar, solicita pesquisas. Quando a trama estréia, os dois se falam diversas vezes por dia. E, se é preciso estar numa gravação orientando a equipe, lá vai ela.
A nova novela de Manoel Carlos será ambientada no Leblon e terá no elenco as atrizes Christiane Torloni e Suzana Vieira. Christiane será Helena, mas, diferentemente das outras protagonistas batizadas com este nome pelo escritor, não será tão bem-comportada. Gabriela já havia pesquisado sobre bissexualidade para "Por amor", mas agora o autor quer ir além:
- Em "Por amor" abordei a bissexualidade masculina timidamente, pois o assunto era maldito. Espero que agora haja abertura para eu ir mais fundo. Já vou encarar a união entre homossexuais com mudanças no código civil e as bênçãos do presidente da República.
O trabalho de Gabriela não se encerra quando ela reúne os dados sobre os assuntos que Manoel Carlos vai abordar.
- Primeiro, faço um levantamento geral. Se ele decide tratar do tema, faço depois uma pesquisa mais específica. E, ao longo da novela, volto a pesquisar toda vez que há necessidade de mais informações - conta ela.
Em "Laços", Gabriela voltou a freqüentar o Hospital do Câncer quando Camila (Carolina Dieckmann) começou a se tratar, para saber mais sobre a evolução da doença.
- Eu também tinha que ficar de olho na imprensa, porque, se aparecesse a cura da leucemia, minha obrigação era informar ao autor - lembra.
O trabalho não é fácil, mas é gratificante, porque Manoel Carlos confia cegamente nela.
- A Gabriela é tudo para mim. É a pessoa que mais me ajuda e ao mesmo tempo com quem mais brigo. Parece aqueles casamentos duradouros, em que um bate hoje, o outro bate amanhã, os dois se queixam, se xingam, mas não se desgrudam. Ela é a pessoa a quem eu consulto sobre mudanças muitas vezes radicais na trama. E, se ela diz que o sujeito pode ressuscitar, ele ressuscita - derrama-se o escritor.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 79802