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Jornal/Revista: O Globo
Data de Publicação: 19/02/2003
Autor/Repórter: Artur Xexéo

UM PRIMEIRO CAPÍTULO QUE DÁ A VONTADE DE VER MAIS

Estréia de 'Mulheres apaixonadas' mostra que Manoel Carlos domina os segredos da telenovela

Um enterro, um casamento, um pneu furado, uma tempestade, um vôo de helicóptero, um banho de espuma, uma noiva tendo chilique, uma traição, um filho desafiando o pai. Quer mais? Uma heroína anunciando, na primeira cena que não é feliz com o marido; um viúvo com pinta de galã pronto para fazer a heroína pecar; uma professora dando pinta de que, talvez, não resista ao álcool; uma escola com jeito de resort; uma babá de cachorros; um músico de boate. Mais um pouco? Um escândalo no cemitério, um atropelamento, um flagrante, o selo desnudo de uma figurante, o perfil do traseiro de um galã internacional... A estréia de "Mulheres apaixonadas", na segunda feira, trouxe ao espectador, em ritmo vertiginoso, o que há muito tempo não se via numa novela: um primeiro capítulo com cara de primeiro capítulo.

Os primeiros capítulos de novelas servem para apresentar personagens. E, se der tempo, insinuar os conflitos básicos da trama. Quando o autor é muito bom mesmo, ainda arranja um jeito de permitir os primeiros brilharecos de seu elenco. Pois tinha isso tudo no primeiro capítulo de "Mulheres apaixonadas". Talvez falte um ou outro personagem para serem apresentados, mas já apareceu tanta gente que fica difícil descobrir quem ficou faltando. Criando duas situações básicas - uma festa de casamento e um enterro - Manoel Carlos teve chance de reunir em apenas dois ambientes todos, ou quase todos, os personagens. Um quem-é-quem esclarecedor e divertido. Brilharecos: Suzana Vieira já demonstrou que quer roubar a cena, mais uma vez, no papel de Suzana Vieira. Paloma Duarte apareceu pouco, mas deu show como a noiva que tem um chilique momentos antes da cerimônia de casamento. Rodrigo Santoro ainda não teve chance de ter um bom papel em novelas. Parece que agora, encarnando um garanhão disposto a conquistar todos os personagens femininos da trama, vai ter o que mostrar. Maria Padilha... confesso, eu não resisto a uma novela com Maria Padilha. Pode ser no SBT, pode ser "Malhação", onde tiver Maria Padilha, a novela conta com, pelo menos, um espectador. Mas é bem mais confortável quando Maria Padilha está na novela das oito.

Tony Ramos... é engraçado o que autores de novela reservam a Tony Ramos. Ele criou sua imagem televisiva como o galã bem-comportado, incapaz de uma vilania, com aparência de quem está sempre saindo do banho. Mas, volta e meia, ganha papéis que pretendem desfazer esta imagem. Recentemente, foi o presidiário grosseiro de "Torre de Babel" e o intelectual sedutor que derretia o coração de Vera Fischer (!!) em "Laços de família". Em "Mulheres apaixonadas", ele ganha de novo um papel que não parece adequado à sua personalidade televisiva. Alguém aí do outro lado escalaria Tony Ramos para viver um músico de boate, boêmio, paquerador, o clichê do carioca-bossa nova dos anos 60? Pois Manoel Carlos escalou. Ele não está mal. Mas a gente fica sempre com a impressão de que, daqui a pouco, ele vai rodar a baiana e... convencer todo o elenco a rezar com ele a oração de São Francisco. Pode ser que seja mais culpa do preconceito do espectador do que do talento do ator.

E, para culminar, o bom primeiro capítulo terminou com um gancho. Gancho! Há quanto tempo capítulos de novela não terminam com gancho? A estréia de "Mulheres apaixonadas" mostrou que um mestre está no ar. Abram alas para ele.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 85968