PUC-Rio

Voltar

Nova Consulta

Jornal/Revista: O Estado de S. Paulo
Data de Publicação: 23/02/2003
Autor/Repórter: Leila Reis

NOVELÃO DE MANOEL CARLOS É O REFRESCO DA TV

O glamour da classe média carioca dá um pouco de leveza à programação pincelada pelas desgraças

Os críticos chamam de teatrão os espetáculos sem engajamento cujo único objetivo é entreter e conseqüentemente garantir sucesso comercial. Na TV existe o novelão, que captura o espectador pela diversão e não por alguma causa. O rei do novelão é, sem dúvida alguma, Manoel Carlos, o autor de Mulheres Apaixonadas, que substitui a arrastada e esquizofrênica Esperança no horário nobre da Globo.Quando alguma trama de Manoel Carlos é anunciada, o público já sabe o que virá. Imagens belíssimas de um Rio de Janeiro glamourizado, bossa nova, mulheres peruas, mansões, festas chiques, romances arrebatadores e muitas intrigas.

O universo de Manoel Carlos é circunscrito à zona sul e aos problemas da classe média carioca. Há quem possa dizer que suas histórias destoam desse Brasil novo, interessado preponderantemente nas questões sociais.

Mas quem disse que novela precisa ser coerente com a conjuntura nacional? Talvez seja a avalanche de desgraças que a TV despeja em cima do telespectador todos os dias que leve o público a desejar um refresco. Um pouco de glamour para contrabalançar com o festival de rebeliões, desbarrancamento de encostas, acidentes de trânsito, crimes nefastos, desgraças individuais exploradas às últimas conseqüências pelas revistas femininas, programas de auditório e pelos “noticiários” policiais.

Talvez esteja aí também a boa receptividade do telespectador para com Mulheres Apaixonadas, que estreou com 45 pontos de média no Ibope (na Grande São Paulo) e manteve a marca na noite seguinte.

Poder invadir mansões e testemunhar o modo de vida chique das peruas e suas intrigas fúteis, sobrevoar as praias da Barra da Tijuca (sem gastar um tostão) e apreciar a forma física de mulheres e homens que nunca vão estar em sua sala é um luxo para o telespectador médio. E ele sabe que Manoel Carlos é o passaporte para essa viagem.

Sabe também que, se a novela é dele, vai reencontrar figurinhas supercarimbadas no elenco. Umberto Magnani, Helena Ranaldi, José Mayer, Suzana Vieira, Tony Ramos, Regina Braga e Julia Almeida são peixinhos de Manoel Carlos.

As mulheres apaixonadas da novela são mulheres insatisfeitas. Como em outras novelas MC, são elas que movimentam a trama. Lorena (Suzana Vieira), assim como Branca de Por Amor, é a perua-mor que manipula a vida de todos à sua volta. A brecada que ela dá em Sílvia (Natália do Valle) para garantir o casamento (já fadado ao fracasso) dos filhos para não decepcionar os convidados nem desperdiçar o dinheiro gasto na festa foi monumental e já mostra que caminhos a perua vai trilhar.

Christiane Torloni também seguirá a pauta criada por MC para as Helenas antecessoras: o da finesse e do comedimento, isso até ser arrebatada pelo verdadeiro amor.

O assédio das maduras (Lorena e Raquel, da personagem de Helena Ranaldi) aos garotões vai apimentar a história. Mas os romances anunciados – de mulheres mal-amadas por namorados do passado, de doidivanas que tiram a roupa por causa de padre e entre adolescentes – é que realmente vão fazer funcionar o motor da trama.

Uma observação: quem disse aos figurinistas que vestidos sem ombro são chiques? Christiane Torloni e Suzana Vieira bem que podiam ser poupadas de tamanha breguice na estréia.

Voltar

Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 86047