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PUC-Rio
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Jornal/Revista: VEJA Data de Publicação: 26/02/2003 Autor/Repórter: Ricardo Valladares
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MULHERES DESESPERADAS
Elas avançam em padre, cunhado e empregado. Na nova novela das 8, as moças só pensam naquilo
Nem o padre se salvou na primeira semana de ataque das Mulheres Apaixonadas. Ou talvez fosse melhor dizer Mulheres Desesperadas, tão grande é o assanhamento das heroínas da nova trama das 8 da Rede Globo, assinada pelo noveleiro Manoel Carlos. As cenas iniciais, exibidas na segunda-feira passada, já indicavam o que estava por vir. Três irmãs trocavam intimidades à mesa. "Queria me apaixonar pelo homem errado, receber uns tapas na cara", diz Helena (Christiane Torloni). E então Hilda (Maria Padilha) confessa a Heloísa (Giulia Gam): "Tive um sonho erótico com o seu marido". Reunião de família das boas. Depois disso, a novela prosseguiu no mesmo tom. A madura Lorena (Suzana Vieira, em seu eterno papel de megera impagável) se engraçou com um capiau bonitão, seu empregado. As esfuziantes Luciana (Camila Pitanga) e Estela (Lavínia Vlasak) atiraram para todo lado. A primeira paquerou um viúvo em pleno velório e se esparramou no sofá com seu primo, no dia em que ele se casou com Marina (Paloma Duarte). A segunda, além de ser a esfomeada que atacou o padre, animou a festa de casamento com um strip-tease. Até as mais tranqüilas parecem estar a perigo. Raquel (Helena Ranaldi) ficou obcecada por um sujeito que viu uma única vez, no meio da piscina, com touquinha e óculos de natação.
É muito improvável que a temporada de caça ao macho se encerre antes do fim da novela. Afinal de contas, o elenco reproduz a estrutura do "mercado", segundo as reclamações das mulheres em geral. Dos 105 personagens criados por Manoel Carlos, 62 são do sexo feminino. Em resumo, falta homem também no folhetim, e os atores vão precisar segurar o rojão. Os mais atacados até agora são Rodrigo Santoro (Diogo), o noivo traidor, e José Mayer (César), o viúvo sedutor. Pelo andar da carruagem, até Tony Ramos (Théo) voltará a ter seus dias de galã.
Depois do fiasco de sua antecessora, Esperança, Mulheres Apaixonadas começou bem. Preservou a média de audiência que a Rede Globo vinha obtendo no horário, 45 pontos – o que é ruim para uma novela que está na reta final, mas bom para uma que está estreando. O mais importante é que a trama tem sal e, até agora, foi ousada sem ser chocante nem pesadona. Se mantiver o equilíbrio, Manoel Carlos pode até conseguir romper um dos tabus que ainda valem na teledramaturgia brasileira: falar de lesbianismo. O assunto está nos planos. Entre as qualidades exibidas até agora pela novela, estão os diálogos e os ganchos de continuação. Descontadas algumas frases teatrais, as conversas são afiadas e convincentes. Dizem as espectadoras que Manoel Carlos deve ter arranjado um esconderijo num banheiro feminino para ouvir o que elas falam dos homens. Na primeira semana, o autor conseguiu terminar cada capítulo em suspense, com um flagra de infidelidade aqui e um começo de strip-tease ali. É o básico. Com isso, as pessoas voltam a ver a novela no dia seguinte.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 86090