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PUC-Rio
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Jornal/Revista: Jornal do Brasil Data de Publicação: 22/02/1989 Autor/Repórter: Márcia Cezimbra
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MANCHETE RECRIA GAFIEIRA HISTÓRICA
A Rede Manchete começará a realizar, a partir do próximo mês, seu mais antigo projeto de teledramaturgia: a novela Kananga do Japão, uma superprodução já estimada em US$ 20 milhões, adiada por falta de verbas desde a estréia da primeira minissérie da emissora, A marquesa de Santos, em 1984. Na realidade, o sonho de criar um drama eletrônico tendo como principal cenário o antigo dancing carioca Kananga do Japão é do próprio presidente da estação, Adolpho Bloch, um dos imigrantes judeus fascinados por aquela espécie de gafieira, freqüentada, nos anos 30, por Carmem Miranda, Noel Rosa e Pixinguinha, que se dava ao luxo de apresentar ao piano gente como Sinhô e Ary Barroso. A Sociedade Carnavelesca Kananga do Japão, nome também de uma orquídea e de um insuportável perfume usado pelas prostitutas da época, ficava na Praça Onze, um gueto de negros e judeus e, portanto, de efervescência cultural. Foi lá, no berço do samba, que Bloch desembarcou ao chegar da União Soviética em 1929.
Uma paixão problemática entre a heroína Dora, uma latifundiária paulista falida durante o crack do café e que se torna chapeleira do Kananga, e o cafetão Alex, atravessará momentos históricos marcantes - a Revolução de 1930, a de 1932 em São Paulo, a Intentona Comunista em 1935, o integralismo em 1937 e a Segunda Guerra em 1939 -ao som de grandes compositores da MPB. Adolph Bloch apenas sugeriu o dancing para a ficção do escritor Wilson Aguiar Filho, que levará ao vídeo personagens reais como Getúlio Vargas, Luis Carlos Prestes, Olga Benário (colega de cela de Dora, presa injustamente como comunista), Mário de Andrade e os músicos da década de 30. O escritor, aliás, especializou-se neste tipo de reconstrução que mistura história real e ficção. Depois de adaptar O Atheneu, de Rau Pompéia, para uma novela da Globo, Wilson escreveu A marquesa de Santos e Dona Beija para a Manchete e, no ano passado, trabalhou com o diretor Walter Avancini na minissérie Abolição e na ainda inédita República, da Globo.
Este projeto, caro e ousado, que prevê a construção de Uma cidade cenográfica de US$ 1 milhão na Barra da Tijuca, pretende levantar a moral da Manchete, arrasada pelo fracasso da última novela Olho por olho e pela falta de recursos para novas produções. Se Kananga emplacar - sua estréia está prevista para junho ás 21h30 -, a emissora promete uma segunda novela para as 19h30, casos especiais e seriados nacionais. Para tanto, o diretor artístico da estação, Jayme Monjardim, deu uma sensível melhorada no elenco da casa, embora não tenha ainda a atriz para viver a protagonista Dora. Sabe-se apenas que w secretária eletrônica de Bruna Lombardi registra um sem número de recados da direção da Manchete. Para viver o cafetão Alex está quase certo o nome do ator Nuno Leal Maia. As gravações começam em um mês, assim que chegar de Cuba sua provável diretora, Tizuka Yamazaki.
Falta ainda um ator para o terceiro vértice do triângulo amoroso central, Danilo Viana, um rico industrial com quem Dora se casa para afastar-se da imoralidade de Alex. Norma Bengell será Letícia Viana, mãe de Danilo, e Luma de Oliveira já aceitou viver sua irmã, Sílvia Viana. Há um núcleo judeu liderado por Saul (Sérgio Viotti), sua mulher Eva (Riva Nimitz) e a filha Shana (Bia Seidl). Há o tenente Henrique, da Intentona, vivido por Paulo Castelli e o estudante Júlio (Tarcísio Filho). A atriz Beatriz Segall, a exmilionária Odete Roitman de Vale tudo, circulava ontem pela emissora para negociar o papel de uma suburbana pobre e grosseira, a tia de Dora, Josefina, dona da pensão que a abriga após a falência.
A história de Dora, Alex e Danilo é um emaranhado de tragédias. Uma delas recria, em parte, a morte do desenhista Roberto Rodrigues, irmão do dramaturgo Nelson Rodrigues, assassinado no jornal do pai, Mário Rodrigues, que publicara uma caricatura insinuando que a jornalista Sílvia Thibau separava-se do marido por um amante. Sílvia foi à redação matar Mário, mas contentou-se em fuzilar o filho Roberto. Ela foi absolvida na Justiça. O mesmo destino terá Dora. Eia mata o jornalista Noronha (Cláudio Marzo) que insinua a sua infidelidade conjugal. É absolvida deste crime, mas condenada mais tarde por outro, que não cometeu, de ser comunista. Tudo termina bem: Dora e Alex juntos e felizes enquanto estoura a Segunda Guerra Mundial.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 8844