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Jornal/Revista: Jornal do Brasil Data de Publicação: 19/07/1989 Autor/Repórter:
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EM TEMPO
Manchete investe 8 milhões de dólares no seu futuro
Apresentada como o mais caro investimento e o maior desafio da emissora, estréia nesta quarta-feira, às 21h30, a nova novela da TV Manchete, Kananga do Japão. Escrita por Wilson Aguiar Filho, dirigida pela premiada cineasta Tizuka Yamazaki e contando com elenco recheado de nomes consagrados da televisão brasileira - entre eles, Christiane Torloni, Tônia Carrero, Rubens Correa, Rosamaria Murtinho, Cláudio Marzo, Sérgio Viotti, Sérgio Britto, Maurício Do Valle, Júlia Lemmertz, Zezé Motta e Carlos Eduardo Dolabella Kananga do Japão consumiu um astronômico orçamento de 8 milhões de dólares. Um investimento que não se faz impunemente: segundo o diretor artístico da emissora, Jayme Monjardim, de seu sucesso depende a desativação ou não do Departamento de Dramaturgia da rede.
A direção da casa espera ao menos chegar a 25 pontos do ibope no Rio e quinze em São Paulo. Para não repetir o insatisfatório resultado de suas últimas produções - Corpo santo e Helena - a Manchete não economizou para fazer de sua nova novela um sucesso igual a Dona Beija, já vendida para diversos países. Assim, aplicou 2,5 milhões de dólares para transformar um velho estúdio de 1.600 m2 localizado em Água Santa, no Rio, em três novas salas de gravação com 6 mil m2. E destinou 1,5 milhão de dólares para construir a maior e mais perfeita cidade cenográfica da TV brasileira, com 2 mil m2 construídos numa área total de 6 mil m2. Kananga do Japão era, na década de 30, uma "sociedade recreativa familiar dançante carnavalesca", localizada na Praça Onze, no Rio - uma espécie de gafieira e casa de shows -, e freqüentada pelo próprio presidente das organizações Bloch, Adolpho Bloch (foi ele que sugeriu o tema). Usando como pano de fundo os movimentados anos 30, a novela conta o triângulo amoroso entre Dora Tavares (Christiane Torloni), Alex (Raul Gazolla) e Danilo (Giuseppe Oristano). Dora é filha de um rico comerciante de café de Santos, em São Paulo, que se suicida após perder seus negócios com o crack na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Sem condições de reconquistar o status perdido, a família vai para o Rio e passa a morar na pensão de um parente. Dora apaixona-se por Alex, um gigolô, mas casa-se com Danilo, um corredor de "Baratinha" e milionário filho de uma família tradicional.
Revolução na TV - Nas várias entrevistas que vem dando à imprensa, a direção de Kananga do Japão refere-se à produção como uma "verdadeira revolução na televisão brasileira". As novidades começam na própria disposição do enredo: o triângulo amoroso ocupa o mesmo espaça que os movimentos culturais, políticos e sociais da época e, para isso, Wilson Aguiar inseriu acontecimentos históricos nos possíveis duzentos capítulos da novela. "Os anos 30 foram um dos momentos políticos mais importantes da história brasileira. O país saiu do agrário para o industrial. E, em termos culturais, a música da época só perde para a bossa nova", observa o autor.
A menina dos olhos de Kananga do Japão, porém, é a cidade cenográfica construída em Grumari, uma das únicas praias ainda não poluídas, localizada depois do Recreio dos Bandeirantes. Em apenas sessenta dias, a emissora aprontou a fachada de 23 casas no estilo da época, uma linha de bonde e uma ponte de 3 m de altura. Para isso, gastou 1,5 milhão de dólares. "Nosso compromisso maior foi retratar o que era a Praça Onze naquela época", explica o diretor de Cenografia da Manchete, Rodrigo Cid. Ao contrário das demais cidades cenográficas já construídas pela própria emissora e pela Globo, a Praça Onze da novela utilizou paralelepípedos de verdade, meios-fios de concreto e deverá ser usada ainda em futuras produções.
Com tal estrutura, a diretora Tizuka Yamazaki acredita no sucesso e não vê nenhum motivo para preocupações com uma possível desativação do Departamento de Dramaturgia. "Kananga é uma competidora de alta potência. E diferente de tudo o que já foi feito em termos de novela até hoje. Tem tudo para dar certo", acredita. Com a palavra, o público.
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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 9157