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Nova Consulta

Jornal/Revista: Pay TV
Data de Publicação: 01/07/1997
Autor/Repórter: Carlos Eduardo Zanatta

CHEGOU A VEZ DO CANAL DE TV DOS DEPUTADOS FEDERAIS

BRASÍLIA - O projeto da Câmara, orçado em US$ 700 mil, prevê a criação de uma central de vídeo e um pequeno estúdio, que já estão em processo de licitação. Os primeiros testes devem começar em outubro.

Até mesmo durante o processo de discussão e aprovação da Lei do Cabo, existiam muitas dúvidas na Câmara e no Senado sobre as possibilidades de utilização de canais do cabo pelo Legislativo. O que, no primeiro momento, podia parecer um exagero "inventado" pelos formuladores da primeira versão da Lei do Cabo - e o deputado Tilden Santiago, do PT de Minas Gerais, era um deles - vem se mostrando atualmente como "sucesso de público e crítica". "Eu não imaginava que seria tão importante quanto está sendo. Isso prova que o povo brasileiro está ávido não apenas por entretenimento, mas também está preocupado com a discussão dos problemas do país. Acredito que, a médio prazo, teremos pelos menos duas conseqüências importantes: as TVs vão ajudar o povo a separar o jôio do trigo e escolher melhor os deputados, e os parlamentares vão ficar tão conhecidos quanto os artistas e os esportistas. Não vai ser mais possível ao político se esconder na multidão", reflete o deputado mineiro.

A Lei do Cabo destinou ao Legislativo três canais especialmente para transmissões ao vivo: o canal do Senado, o canal da Câmara dos Deputados e o canal da Assembléia Legislativa dos estados para ser partilhado com as Câmaras de Vereadores dos municípios. O Senado saiu na frente e vem fazendo furor com as transmissões diretas do plenário. Analistas políticos chegam a dizer que os senadores têm tomado muito mais cuidado em suas intervenções e outros, "mais atentos à importância da mídia", têm se esmerado em aparecer na TV Senado. Não passa uma semana sem que algum colunista de jornal ou leitor, na seção de cartas, faça referência ao que andou assistindo na TV Senado e tudo isso considerando-se ainda a baixa penetração da TV a cabo no país. O sucesso mais recente da TV Senado foi a transmissão ao vivo das sessões da CPI dos Precatórios.

Nos estados, as Assembléias Legislativas de Minas e de São Paulo e o poder equivalente no Distrito Federal, a Câmara Distrital do DF, já começam a utilizar os cabos. Algumas Câmaras de Vereadores de municípios importantes, como Belo Horizonte, São José do Rio Preto, Jundiaí e São Paulo, estão se mobilizando para entrar no cabo. Faltava a Câmara dos Deputados. Parece que chegou a vez dos deputados federais.

"A necessidade de uma TV Legislativa surge pela compreensão de que as TVs comerciais, inclusive a TV por assinatura, não têm obrigação de dar uma cobertura total e abrangente do que se faz na Câmara. A imprensa em geral, e em especial a televisão, não tem como cobrir o trabalho das 22 comissões técnicas e especiais. O propósito da imprensa de massa é informar mais sobre as decisões do que o processo. Uma TV própria vai colocar na casa de cada um a Câmara em funcionamento. Vai ficar mais fácil ao eleitor verificar o que é que se faz na Câmara", explica o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer.

No ano passado, a Adirp (Assessoria de Divulgação, Imprensa e Relações Públicas) foi autorizada pela mesa da Câmara a realizar estudos para a implantação de uma central de vídeo. Os estudos chegaram à conclusão que, antes de implantar qualquer coisa mais complexa e mais cara, era necessário fazer experiências no uso do vídeo. "Não temos cultura de vídeo na casa", relata um dos técnicos do órgão, responsável pela tarefa. Para experimentar televisão, a Câmara contratou uma produtora de Brasília que lhe cede algumas câmeras e uma ilha de edição para a produção de um programa diário de dois minutos e meio que, com mais dois minutos e meio do Senado, vão ao ar na rede das TVs educativas. Ao mesmo tempo foi elaborado um projeto para a montagem de uma pequena produtora interna. Já começava-se a definir os equipamentos, quando, até por isso mesmo, um grupo de funcionários da Câmara foi à NAB do ano passado em Las Vegas e voltou impressionado com o progresso da digitalização no setor. "Percebemos que a continuar na linha analógica quando começássemos a trabalhar já estaríamos completamente obsoletos", conta um dos técnicos que viajou aos Estados Unidos. E a grande surpresa, segundo eles, foi o preço dos equipamentos digitais, "coisa de apenas 15% a 20% mais alto do que os analógicos".

Na verdade, o projeto da Câmara visa criar uma central de vídeo e um pequeno estúdio que já estão em processo de licitação. A Adirp acredita que em outubro já serão realizados os primeiros testes. Este será o primeiro passo para instalação da infra-estrutura que vai permitir a geração do sinal para o satélite. "Antes do satélite, vamos oferecer o sinal, por fibra, para a Net Brasília para aprender um pouco mais." Além da central, será feito o cabeamento para possibilitar geração a partir dos quatro auditórios e do plenário da casa.

Ainda em 1997 - Nos mesmos moldes do sistema existente no Senado, quando tudo estiver funcionando, os deputados poderão acompanhar de seus microcomputadores nos gabinetes as sessões das comissões ou "o que está acontecendo no plenário". Um sinal, produzido a partir de todo este material disponível internamente na Câmara, será colocado no satélite para todas as operadoras de TV a cabo do país... e a TV Câmara estará pronta. Atualmente, a Embratel cobra do Senado R$ 20 mil mensais pelo aluguel do transponder. Com algo em torno de US$ 200 mil, os técnicos da Câmara acreditam que teriam os equipamentos para entregar o sinal no satélite. "A TV Câmara deve estar disponível para os assinantes do cabo de todo o país no final de 97", imagina Ronaldo Paixão, diretor da Adirp.A central da Câmara, na verdade, não será inteiramente digital. Há necessidade de deixar abertas entradas analógicas no sistema para receber o material que os deputados eventualmente tragam de suas bases e também manter saídas analógicas para a produção, como por exemplo de "fitas com discursos dos deputados em VHS", o que normalmente é um dos produtos mais procurados pelos parlamentares. O projeto deve custar em torno de US$ 700 mil. Além da construção do estúdio e do cabeamento da casa, serão compradas seis câmeras e duas ilhas de edição.

"Queremos fazer uma televisão jornalística, na maior parte do tempo ao vivo, e uma televisão que não seja chata, mas que possa refletir todo tipo de problemática que é discutida na Câmara", avisa Ronaldo Paixão. "A programação normal da TV será exibida do meio-dia da segunda-feira até o meio-dia da sexta, nos horários em que houver sessões no plenário e nas comissões da Câmara. No resto do horário disponível, inclusive nos finais de semana, vamos apresentar programas que pretendemos obter através de convênios com as TVs públicas de outros países." Vem aí mais um campeão de audiência?

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 96049