![]()
PUC-Rio
![]()
Jornal/Revista: O Dia Data de Publicação: 30/07/1989 Autor/Repórter:
![]()
É CARNAVAL EM KANANGA DO JAPÃO
Em Kananga do Japão (21 horas 30m - Rede Manchete), a Praça Onze vira um mar de confete e serpentina para festejar a folia ingênua e romântica de 1930, quando arlequins, pierrôs, colombinas, piratas e melindrosas saíam às ruas cantando suas trovas e buscando novos amores.
Estas cenas vão ao ar nesta terça-feira, e as gravações, realizadas na semana passada, mobilizaram grande número de pessoas na cidade cenográfico de Grumari, entre elenco, equipe técnica, turma de apoio e 500 figurantes, cuidadosamente vestidos e maquiados de acordo com a época.
Cerca de 50 sacos grandes de confetes (com 10 quilos cada um), além de 30 caixas de serpentinas foram gastos pela cenografia para , decorar a praça do chafariz, como afirmou o cenógrafo Sérgio Pericone. Nas janelas, faixas de tule coloridas e estandartes em forma de baralhos, motivados na história de Pierrô-Colombina-Arlequim, completavam o ar nostálgico. Na verdade, inspirados no próprio triângulo da novela, Alex-Dora-Danilo (Raul Gazolla - Cristiane Torloni - Giusepe Oristâneo) e nas jogatinas promovidas pelo bicheiro Caveirinha (Nélson Xavier).
Mas naquela época, o grande carnaval popular acontecia mesmo era dentro dos bondes, quando os homens aproveitavam para não pagar, e paquerar as mulheres, que então ficavam mais soltas. E lá estava também o famoso bonde da linha Praça Onze, que saía decorado todo sábado de carnaval.
É neste cenário, perto do chafariz, que Dora (Cristiane Torloni) é surpreendida por um tremendo beijo de Alex (Raul Gazolla), que desfila, deslumbrante, com sua fantasia de pirata no bloco de Kananga.
NO TEMPO DO LANÇA-PERFUME - "Uma época de ouro". É como o cenógrafo Rodrigo Cid relembra os carnavais dos anos 30. Naquele tempo os ricos só desfilavam no corso da "Avenida Central", primeiro nome da Avenida Rio Branco. Mas o verdadeiro carnaval de rua, mais popular, acontecia nas praças, com os desfiles de blocos de sujos e das associações carnavalescas. Tudo regado a batalhas de confetes, banhos de mar à fantasia e bastante lança-perfume.
A decoração de rua, no entanto, só passou a existir a partir de 1934, quando Getúlio Vargas oficializou o carnaval. Em 1937, a primeira gambiarra (seqüência de luzes) era colocada na Praça Onze. Mas tudo muito simples, bancado pela comunidade, que para isso passava o famosos livros de ouro. Já o Clóvis (cuja palavra origina-se de Clown-palhaço) só existia nas zonas rurais.
Mas para Rodrigo Cid o aspecto mais sério do carnaval daquela época era o sociológico: "Foi quando a mulher se encontrou com o homem na rua, pais antes era trancada dentro de casa. É aí que surge a lança-perfume, aproximando essa relação. Depois surgem os bailes mais sacaninhas, e muito concorridos, como o Hight-Life, na Rua Santo Amaro, Glória. Lá permitia-se até o decote, mas dentro do salão o ambiente era familiar. Do lado de fora, no entanto, a coisa era outra. Quantas crianças não nasceram dos jardins do Hight-Life?".
![]()
Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 9826