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Jornal/Revista: O Dia
Data de Publicação: 06/08/1989
Autor/Repórter: Mônica Soares

EM KANANGA, ZEZÉ MOTTA REALIZA UM GRANDE SONHO

Sorridente e brejeira, como sempre, Zezé Motta (a Lulu Kelly de Kananga do Japão) senta-se no banquinho da Praça Onze cenográfica, em Grumari, para falar um pouco de sua vida. Logo se surpreende com a multidão que a cerca, lhe faz perguntas e pede autógrafos. A intimidade com que eles tratam Zezé arranca da atriz uma gargalhada gostosa. É sempre assim, onde quer que esteja. E ela não se incomoda. Afinal, mais do que atriz, cantora, dançarina e profunda conhecedora da cultura negra, para seus fãs Zezé é uma vencedora.

Aos 45 anos - pasmem! - tem 22 de carreira. Faz questão de esclarecer direitinho, em tom solene. E embora diga que já viveu muitos momentos especiais na tevê, ressalta que, desta vez, em Kananga do Japão, na Manchete, está realizando um sonho que pretende realizar no teatro: representar, cantar e dançar.

- Estou tendo o enorme prazer de ser patrocinada pela Kananga para fazer isso - diz ela. E atingindo um público muito maior, que é o público de televisão. Só que eu não abro mão deste outro sonho, fazer um musical no teatro. A Lulu Kelly preenche a minha vida no momento, de uma maneira muito feliz. Acordo bem todos os dias, e venho gravar contente.

EM DOSE DUPLA - A imagem de Zezé, que está ao mesmo tempo em Pacto de Sangue, reafirma a versatilidade da atriz. Na Globo ela dá vida a um personagem bem diferente da Lulu, que é a Maria. Abolicionista, de personalidade forte e caráter envolvente, é contida, fechada, sofrida. "Nem por isso Maria esmorece, conseguindo tirar proveito de todas as fases ruins por que passou e transformá-las em esperança. Outra coisa interessante, é a afinidade que as crianças passaram a ter comigo depois que fiz a novela das seis. E uma energia gostosa."

Lulu e Maria, no entanto, têm em comum uma grande força interior que Zezé transmite e que sempre empresta às mulheres que representa. Isto a faz lembrar-se de Dalila, personagem do filme de Cacá Diegues, Dias Melhores Virão, com estréia prevista para breve, e que reúne também no elenco Marília Pêra, Rita Lee, Patrício Bisso e outros. "Ela é uma solteirona, mulher amarga, para quem o sonho já acabou. É o oposto de mim, mas achei muito importante fazer esse trabalho, revelar o lado da sombra".

Mística, Zezé vai dizendo logo que seu bom astral tem um porquê: "Sou filha de Oxum com Iansã, e eu só rodo a baiana de 6 em 6 meses, quando ela chega. De resto é tudo calmaria. Sou de Câncer, com ascendente em Aquário e Lua em Virgem. Ah! e Macaco no horóscopo chinês!"

FILHA DE CHICA - Nas lembranças, Zezé não pode esquecer Chica da Silva. Foi seu maior sucesso, a personagem por quem guarda o maior carinho. Por tabela, responde que Cacá Diegues é o seu diretor preferido, sem esquecer de tecer enormes elogios a Marília Pêra.

Da vida particular Zezé não gosta de falar muito, prefere aproveitar o tempo - escasso - para lembrar do último disco que gravou, há 1 ano. Quarteto Negro, que reúne também Paulo Moura, Jorge Degas e Djalma Correia.

E lindo, lindo. São cinco faixas instrumentais e cinco cantadas. Todos tocam e todos cantam. Agora estou sem gravadora, mas tenho material acumulado para um outro projeto. Não quero parar de cantar. Todo mundo me pergunta o que eu gosto mais de fazer, cantar ou atuar, mas digo Com sinceridade que não saberia viver sem fazer uma coisa nem a outra. Isso é tudo o que eu espero da vida, nada mais.

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 9867