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Nova Consulta

Jornal/Revista: O Dia
Data de Publicação: 13/08/1989
Autor/Repórter: Mônica Soares

CRISTINA OLIVEIRA

O alívio de não ter sido Dora

Para quem não acredita nas histórias hollywoodianas sobre pobres menininhas desconhecidas que se tornaram grandes estrelas de cinema ao serem descobertas pelo olho clínico de algum diretor famoso, a história de Cristiana Oliveira poderá parecer um mero conto de fadas. Aos 25 anos, modelo e manequim, ela caiu nas graças de Jayme Monjardim, diretor-artístico da TV Manchete, que por pouco não a transformou na Dora, personagem principal de Kananga do Japão. Mas Cristiane Torloni aceitou o papel e Cristiana acabou presenteada com a judia Hannah, o segundo papel feminino de grande peso no novela de Wilson Aguiar Filho.

Com a fita que gravou para um comercial de tevê debaixo do braço, ela procurou a emissora para tentar uma vaga no programa Shock. Entrou na sala de Jayme Monjardim e ele imediatamente vislumbrou a Dora, papel escrito inicialmente para Maitê Proença. Embora não acreditasse no que estava acontecendo, Cristiana aceitou fazer os testes com Tizuka Yamasaki e Carlos Magalhães, diretores da novela. A idéia original era lançar um rosto novo, caso eles não encontrassem nenhuma grande atriz que se encaixasse na personagem. Cristiana perdeu o sono, às voltas com os scripts. Pediu a Deus que a colocasse no caminho certo, pois tinha medo de enfrentar o desafio sendo uma iniciante, sem nenhuma noção de representação. Perdeu o papel, sentiu um alívio enorme e ao mesmo tempo tristeza por ter que deixar o elenco, com o qual já se havia acostumado. O autor chegou a escrever outro personagem para ela, a irmã de Yoshua (Vicente Barcelos)., o prometido de Hannah. Mas Bia Seidl saiu do elenco e ela recebeu novo telefonema do diretor: "Você vai ser a Hannah."

Hannah é uma jovem sofrida, que vive em conflito com os pais por não poder seguir sua ideologia política e nem casar com o homem que ama, Henrique (Paulo Castelli), um jovem tenente comunista. "Ela é contida, solitária, emocionada. Exatamente o oposto de mim, que sou aberta, comunicativa, brincalhona. A Hannah só se expõe um pouco mais quando declara seu amor. Ela muda, seus olhos brilham. No entanto não tem coragem de desobedecer os pais, que proíbem sua união com um gói (não-judeu). Ela diz uma frase que define muito bem esse tipo de submissão: "Eu sou apenas uma mulher, sou judia e respeito o meu povo."

Para fazer parte da família Saul, Cristiana Oliveira precisou aprender noções do idioma iídiche e dos tradicionais costumes da região judaica. O cantor litúrgico Alberto Burzstein, 35 anos, do Grande Templo Israelita, no Centro do Rio, é quem acompanha as gravações e dá aulas de judaísmo para a atriz, assim como para Sérgio Viotti (Saul), Riva Nimitz (Eva) e Yoshua (Vicente Barcelos). E é com os atores desta família que Cristiana encontra o maior apoio profissional. "O Sérgio é o meu guru, sigo à risca o que ele me diz."

Sagitariana, com ascendente em Virgem, Cristiana é muito espontânea, com um jeito aberto de tratar as pessoas. E o fato de tornar-se uma pessoa pública, de uma hora para outra, lhe causa problemas. "Vivo de braços dados com a Ana Beatriz Nogueira, encho a Tizuka de beijos, agarro o Raul Gazolla. E as pessoas se incomodam com isso, fazem fofocas. Mas sou muito bem casada, há 3 anos, com um homem que amo de paixão, o fotógrafo André Wanderley. Ele sobe que sou assim. Temos uma filha linda, a Rafaela, de 2 anos, o nosso xodó. Mas começo a perceber que eu tenho que me policiar. Esse é o lado ruim da profissão."

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Fonte: Banco de Dados TV-Pesquisa - Documento número: 9922